sexta-feira, janeiro 23, 2009

Recordando: Recordações pessoais (1)

Guardo (ainda e por quanto tempo?) na memória esta cena passada nos primeiros tempos de Escola Naval (EN), anos sessenta, julgo que 64.

Passa-se cerca do meio-dia, na sala de espera para as consultas médicas no Serviço de Saúde da EN. Sala concorrida por cadetes de vários anos (ainda não havia nessa altura a figura de aspirante aluno, nem os correspondentes vencimentos!).

As razões de saúde não seriam muitas, quase tudo gente bem constituída e saudável, mas sobrepunha-se a necessidade duma justificação de falta ou dispensa de alguma aula matinal de educação física ou infantaria, ou mesmo, como ocorria frequentemente, a tentativa de obtenção duma ementa de dieta com os apetecidos bifes. Para outros era a oportunidade de se “baldarem” à formatura geral com revista (e aos riscos inerentes), da hora do almoço, de toda a Companhia de Alunos - assim se designava nos primeiros anos sessenta e não Corpo de Alunos como se veio a chamar poucos anos mais tarde e até hoje - .

Não havia lugar sentado para todos, conversava-se mas não muito alto porque se estava paredes-meias com o consultório médico. Eis que de repente (ainda hoje não se apurou se foi acto premeditado do médico, julgo que o Dr. Miranda, homem afável de cara sardenta que nos terá dado umas aulas de primeiros-socorros), a porta da sala de consulta se abre, mais do que o costume e assim permanece algum tempo. E o que se pôde observar, com a intensa curiosidade de quem esperava com o espírito algo intranquilo? O nosso camarada NT/OC Sousa Pinto, auto-intitulado “Dr. Joel”, de cor entre o verde e o amarelo, fazendo alguns esgares a tentar engolir um tubo de borracha, certamente para recolha de suco-gástrico.

Rapidamente se espalhou que seria um exame obrigatório para quem se fosse queixar de problemas digestivos na pretensão do tal apetecível regime alimentar. E a debandada da sala de espera foi geral, mesmo com sujeição a possíveis consequências.

Soube-se, pouco depois, que o “Joel” * apesar de sujeito a tal tortura não conseguiu a desejada dieta.

Nota*: Alcunha inteligente criada pelo próprio para evitar outras, deste filho dum célebre professor do Liceu Normal de Pedro Nunes (Dr. Estevão Pinto, alcunhado nos anos cinquenta de "Alegria nos cemitérios").

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