Dia 25 de Maio de 1965, Terça-feira
Passámos, assim, os 0 graus às 04h40m – RP de quarto, eu também, assisti a mais um “pifo” com o grupo à navegação (ACCF, FJMCS, RD e CdaS). O RP, mouse, ainda me perguntou se eu tinha visto a linha do Equador (faixa de água mais escura…); como estava lua nova, não deu para ver.
A manhã passou-se com uma estranha calma – prenunciadora do turbilhão vespertino.
O “julgamento” iniciou-se, então, a seguir ao almoço. Começou com um cortejo de trajes muito apilarados e bem conseguidos, com destaque para o Salgado (mar. L, cantineiro), no papel de ninfa dos mares; o juiz era o Neves (2º sarg. M), o “Mau”, sendo advogado de defesa o Mendes (2º sarg. M, contramestre) que, no estrito cumprimento dos seus deveres, enterrou o mais possível os pobres réus. Finalmente, os carrascos eram o 20 e o Canilho (mar. F), sendo o 69 o barbeiro.
Foram, primeiro, julgados os oficiais, a começar pelos que já tinham passado anteriormente; destes, o SSilva (Pisa Papéis, segundo os autos) foi o mais atingido-3 mergulhos sem respirar, assinou o vale, tabela 3 e fez a barba. Dos restantes, referência para o Shalako (BeA), com um julgamento “soft” e para o Comandante, cuja sentença se transcreve:
“1. Multa de 50$00 por seguir com o navio fora de mão;
2. Entra com 24 garrafinhas da marca Sagres;
3. Assina agora mesmo o vale para não esquecer;
4. Regressa ao seu lugar e espera pelo fim da festa para dar o exemplo;
5. Finda a festa retoma as suas funções;
6. Esquece todas as piadas da malta;
7. Pode retirar-se em paz e manda vir uma garrafa de whiskey para o Rei dos Mares”
Seguiram-se os sargentos, as praças e, por fim, os cadetes (de serviço interno com ténis). Fomos chamados por ordem numérica e multados cada um com 20$00 e 12 garrafinhas de mau cheiro marca Sagres, ensaboadela e, por fim, o banho. Ainda o “desfile” dos cadetes ia a meio, rebentou o dilúvio: mangueiras por todo o lado, ninguém escapou à molha ( o HG, talvez para preservar a saúde que sabia ir ser duramente posta à prova em terras do Lula, tentou refugiar-se no cesto da mesena mas foi “obrigado” a descer e devidamente humedecido).
Com esta confusão toda, alguns, como eu, deixaram roupa a granel (o que era muito fiscalizado e sempre punido); desta vez safei-me porque o SO4H2 (CR) me guardou as calças esquecidas.
Para a posteridade, fica também a relação da “Comissão da festa do Rei dos Mares”, NE SAGRES, 1965:
1º ten. Conceição e Silva mar M Zé Manuel I mar. M Rolim
2º ten. Homem de Gouveia mar M Zé Manuel II mar. M Chico(español)
1º sarg. M Sá de Oliveira mar F Canilho mar. M Ernesto
1º sarg. H Urbino mar. M Santos mar. M Silva
2º sarg. M Mendes mar. M Salzedas mar. M Marques
2º sarg.M Neves mar. M Garcia mar. M Carraça
Cabo F Leal mar M Porto mar. M Peres
Cabo Q Chico mar M Mergulhão mar M Clarim (bigodes)
Cabo M Tomé mar M Paulo mar M Peniche
Cabo L Renato mar. M Madeira grt. Bombaças
Mar. L Salgado mar. M Dionísio
Fica aqui, desta forma, um modesto resumo resumido da que terá sido, para quase todos nós, a primeira passagem por aquelas latitudes.
Colaboração do FSLourenço
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