terça-feira, julho 06, 2010

Viagem no NE "SAGRES", 06 de Julho de 1965

Dia 6 de Julho de 1965, terça-feira

Chegou, tinha que ser, o dia da saída do Recife, do Brasil…

Levantei-me às 06h20m (ligeiramente depois da hora correcta), “safei-me” porque o oficial de serviço “içou” 10 minutos depois…

De manhã, houve ainda licenças. Estava um dia magnífico, pensei na piscina, mas acabei por ir com o PR (não o Cavaco, sim o CR cujo nome é uma expressão matemática, o polinómio) a casa de umas pessoas que tinham estado na recepção do dia anterior e que tinham insistido para os visitarmos. Simpaticamente, lá nos deram mais umas prendas, lembro-me dumas facas, lembro-me também que tivemos que carregar mais souvenirs para o Comandante e para o Capelão (como se vê, assunto muito sério, nada de poucas vergonhas).Ainda na casa, dessedentaram-nos com uns líquidos não pertencentes ao mesmo grupo da “Sagres zero”, pelo que regressámos a bordo pela ortodrómia.

Depois do almoço, o navio esteve aberto a visitas até às 15h00m, lá estavam os nossos amigos da manhã, com mais prendas (esclareço que nenhuma delas era um BMW amarelo torrado), também apareceram, naturalmente, conhecimentos dos dias anteriores, foi-se criando o ambiente da despedida.

Largámos, finalmente, às 16h00m, com uma banda no cais a tocar os dois hinos nacionais; ainda no porto, subimos todos aos mastros, o que muito contribuiu para uma despedida impressiva

Só então começou verdadeiramente, em todos nós, a tomada de consciência de que tínhamos SAÍDO DO BRASIL, o que causou uma baixa generalizada no moral das tropas.

Continuámos a avistar a costa até ao anoitecer. Depois do jantar fui espairecer até ao convés e só então soube que um CR (se juntarem a 6ª letra do alfabeto com a 14ª, K incluído, saberão quem era o “artista”) tinha apanhado um monumental pifo; foi detectado no beliche a discursar, chamaram o EP e o Urbino, até que lá aliviou, deixando um fortíssimo e persistente rasto olfactivo – tivemos, eu incluído, de “dar uma” de brigada L.A. de limpeza.


Colaboração do FSLourenço


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1 comentário:

s.pinho disse...

Este diário está interessantissimo, eu diria mesmo que algumas passagens são delirantes. A propósito lembram-se daquelas maravilhosas torradas que de tão boas até lhe chamávamos "torradas BMW"? Confesso que esta despedida me incomodou, e até me ia causando alguns amargos de boca, mas felizmente tudo acabou em bem. Só o nosso artilheiro ficou ligeiramente incomodado e já em alto mar teimava em querer ir para o Recife.Provavelmente teria ficado algum museu por visitar, ou monumento por apreciar. Eu por mim apreciei os monumentos a que tive direito.