quinta-feira, julho 29, 2010

Viagem no NE "SAGRES", 29 de Julho de 1965

Dia 29 de Julho de 1965, 5ª feira
Chegou finalmente o dia da “guerra”. Alvorada à hora normal, pequeno almoço em acelerado.
A estrutura do exercício era, em linhas gerais, a seguinte:
- Grupo de terroristas, constituído pelos 1º e 2º grupos, chefiado pelo sarg. Aires;
- Grupo de forças da ordem, formado pelos restantes elementos (ao qual eu pertencia);
- Grupo de Comando, chefiado pelo Comandante das Forças da Ordem (Ten. HG), integrando 3 CR´s.
O grupo de terroristas, muito menor do que o outro, ia muito mais bem equipado, mais leve, botinha de lona, verdadeiros profissionais da guerrilha; a tropa macaca (com o seguinte equipamento: espingarda Mauser, carregadores-2, equipamento Mils, sabre - baioneta, mochila, bornal e cantil) ia sabe Deus como -eu, por exemplo e julgo que todos os outros, fui com o sapatinho do serviço interno que me rebentou os pés ainda no dealbar.
Ficou também a marcar esta actividade, para as décadas que se seguiram, a reunião de preparação que se realizou na véspera e na qual se escolheram os CR´s para determinadas funções específicas; quando chegou o momento de nomear o operacional das Comunicações (que, supostamente, levaria menos carga que os outros) e como para alguns o universo dos equipamentos portáteis se resumia aos PRC´s do tamanho daquele rádio que alguém vendeu (sem miolo) ao AP, logo se perfilou um “mouse” (quem terá sido?)a voluntariar-se para a função, escapando assim, pensava ele, à barra pesada dos restantes infelizes das forças da ordem; quando recebeu um TR 28 e respectivos acessórios, logo percebeu que, desta vez, as coisas não lhe tinham corrido bem.
Como abastecimento para os 2 dias, cada um levou 2 rações de emergência, 2 peros, 2 bananas, 2 pacotes de bolacha, 2 cubos de queijo e 4 de marmelada, além de 1 cantil de água.
Os terroristas saíram, então, por volta das 08h00m; as forças regulares, às 10h00m.
Logo à saída, após passar o cemitério, fomos atacados numa emboscada, bem feita, por sinal; claro que nos atirámos para o chão, em reacção de auto-defesa. Lembro-me de, nessa altura, ter sentido uma humidade anormal numa das pernas, o que me levou a concluir que a adrenalina devia provocar esta estranha secreção. Afinal, pouco depois, desfiz totalmente esse raciocínio quando constatei que, em vez da adrenalina, tinha sido uma das bananas, inadvertidamente metida no bolso errado do fato de combate, a provocar aquela sensação, depois de esmagada aquando da reacção ao ataque; escusado será dizer que este incómodo me acompanhou no resto da jornada.
Continuando o deslocamento, parámos apenas para almoçar; fomos, aí, novamente atacados. Por fim, lá conseguimos continuar a progressão até ao destino final desse dia, na Ponta da Calheta Grande; chegámos à praia às 17h00m (fomos autorizados a tomar banho, o pior que podíamos ter feito, percebemos algum tempo depois, quando secámos) e instalámos o acampamento mais acima, cerca do pôr do sol. O dispositivo de segurança então montado incluiu 3 sentinelas e 3 guarda-costas, que não foram suficientes para impedir novo ataque, durante a noite, desta vez também com granadas. Aliás, a propósito de armamento, refiro que os turras fizeram sempre fogo real e nós só tínhamos 2 cartuchos cada um, bala simulada.

Colaboração do FSLourenço

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1 comentário:

s.pinho disse...

Eu tambem era da tropa fandanga, mas 7 anos de Pilão deram-me alguma manhosisse, que muito me ajudou nesta etapa negra (por ser em África)da nossa formação. Era giro ler o relato de alguem dos turras.