sexta-feira, julho 30, 2010

Viagem no NE "SAGRES", 30 de Julho de 1965


Dia 30 de Julho de 1965, sexta-feira

“Acordei”, se é que cheguei a dormir, às 04h30m e às 05h00m a minha secção foi mandada reabastecer de água, tendo a 1ª ido buscar munições, em locais na mesma área, distante do acampamento e junto à estrada mais próxima (por esta altura, o comunicativo implorava a todos que trocassem com ele, mediante chorudas contrapartidas: ninguém aceitou). Cumprimos um percurso terrível (onde encontrámos cabras a comer papel, que era o que havia…) porque o nosso chefe de secção, o CF (CF) entendeu que devíamos seguir uma grande curva para fugir aos terroristas, ficámos quase estourados logo no começo do dia.

Chegados ao local e antes do jeep, vindo do navio, aparecer com o abastecimento, aproveitámos uma camioneta da Câmara Municipal que estava perto, com água e atestámo-nos.

Também por ali estavam, com o mesmo objectivo, os turras, com os quais confraternizámos (portanto, se alguém pensa que foi o Solnado quem, mais tarde, inventou aqueles episódios da guerra, está muito enganado; fomos os pioneiros em bom relacionamento durante o conflito)…

Partimos então de regresso ao acampamento, mas em breve reconhecemos ser impossível a secção conseguir transportar tudo naquela distância; assim, o RD e o MC (AJ) foram à frente pedir reforços, que demoraram uma eternidade, pelo que só chegámos ao acampamento por volta das 2 da tarde, mais mortos que vivos.

Após um curto descanso, fizemos tiro de G3, foi agradável e motivante, pela novidade.

Saímos, por secções, de regresso à Sagres, a partir das 18h30m e já chegámos às primeiras montanhas de noite; nem sei muito bem como consegui chegar à estrada, por volta das 22h00m, não sem antes ter aproveitado água de um poço (charco?) onde várias coisas boiavam…

Apanhei, então, com outros, boleia do jeep, que tinha avançado à nossa procura, chegámos a bordo totalmente exauridos, bebemos, apesar dos avisos do EP, uns litros largos de água, o que teve algumas consequências desagradáveis.

Finalmente o beliche, onde não se conseguia estar bem em qualquer posição.


Colaboração do FSLourenço


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7 comentários:

M.Sá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
s.pinho disse...

Lembro-me de quase todos os pormenores relatados pelo Fernando. Que bom que está a ser recordar tudo isto. Obrigado.

M.Sá disse...

Vê - se logo que se tratava duma secção de meninos mimados...coitadinhos, até tiveram que beber água dum charco!! Que dizer então daquela secção que , para sobreviver e continuar a defender os superiores interesses da Pátria, alguns dos seus heróicos elementos se dispuseram a sugar a aguadilha das bolhas dos pés dos seus já depauperados camaradas...isto sim, isto revela espírito de missão e nobreza de carácter!!!

JPVillas-Boas disse...

No último dia deste exercício tive experiências de vida muito interessantes:
1. Julgava eu que com sede se bebia o que aparecesse. Aprendi que efectivamente não é assim. Já de noite e no início do regresso ao navio, completamente sedento, confrontei-me na estrada com um bidão cheio de água julgo que levado de bordo. Preparado para matar a sede, o cheiro que exalava a gasóleo criou-me uma aversão que me impediu de ingerir sequer um golo.
2. O percurso de regresso a bordo, que por teimosia quis fazer a pé com grande esforço, a inter-ajuda de dois camaradas, fisicamente mais aptos, foi muito marcante. Noutra ocasião o relataremos, não esquecendo a nossa entrada, sujos e suados mas armados, num pequeno bar mal iluminado onde sobre o bar havia dois depósitos de vidro cheios de água cristalina de cuja pureza nem sequer duvidámos.
3. Já a bordo, confortados com um bom banho e ouvindo os primeiros relatos do MCampos(sem quaisquer exageros), os litros infindáveis de bebidas, desde a água ao leite com chocolate, que ingerimos durante a noite até que o sono nos atingisse.

JPVillas-Boas disse...

o que o Arménio Fidalgo lhe disse: Sobre o exercício, o que ainda retenho é o seguinte:
- A capacidade de liderança do Cabrita, pela sua facilidade de orientação noctuna mostrando uma rusticidade impressionate ao contrário dos meninos citadinos.
- A água retirada de um poço com forte sabor e cheiro a petróleo e que provocou uma rejeição total de alguns, mas que a outros soube que nem ginjas.
- No final do exercício estava previsto um rendez-vous no início da estrada, em que os diversos grupos chegavam desfasados. Depois cada grupo fazia uma espécie de contra- relógio até à Sagres, a correr ou a marchar, para ver quem demorava menos tempo. O 1º grupo arrancou e penso que chegáram todos juntos. O 2º grupo de que eu fazia parte, o Villas Boas, Bento?, como chegámos mesmo ao pôr do sol, só estes se aventuraram a fazer o percuso a pé. Como eu e o Bento tinhamos grande pedalada e puxando pelo Villas, fizémos quase sempre a correr, com grande espírito de missão do Villas. Nesta corrida, já sem água e de noite, démos com uma tasca tipo palhota. Entrámos, com o aspecto que devem imaginar, pedindo água, O "dono" à rasca quase nos obrigou a beber laranjada que foi oferecida, porque não tínhamos dinheiro para pagar. Parte deste 2º grupo foi o mais rápido, mas quem ganhou foi o 1º. Os restantes grupos e parte do 2º aguardaram por transporte e chegaram muito depois dos que foram a pé.
- Após a chegada à Sagres, lembro-me do Medeiros ter enchido um dos lavatórios com água e metendo a boca no mesmo, deve ter bebido alguns 2 litros sem respirar, vendo-se nitidamente o nível da água a baixar.

JPVillas-Boas disse...

o que o MPBento também, sobre o mesmo assunto, lhe disse: Já não me lembro quem constituía os grupos.
Contudo, continuo a lembrar-me muito bem da promessa que o nosso
Director Escolar embarcado (AMP) fez, de dar um prémio ao que
gastasse menos tempo no percurso.
A ordem de saída foi sorteada e nisso tivemos sorte, pois fizemos o
percurso todo com a luz do dia, ficando em 1º lugar.
Ainda me lembro e bem, de ter o meu grupo, para o qual fui escolhido
para ser "chefe" pelos camaradas que o integravam, chegado à Sagres em
passo de corrida, puxado por mim e por mais não sei quem, que andámos
de trás para a frente a encorajar os que estavam em piores condições
físicas.
Recordo também e ainda sinto o cheiro quando o faço, da água que
bebemos com sabor a petróleo, gasóleo ou lá o que era!

JPVillas-Boas disse...

que segundo apurou o AFidalgo em documento oficial (a Ordem de Operações) aquele grupo, que era constituído por 3 elementos) era composto por ele AFidalgo MoreiraPereira e JVillas-Boas. Além de sujos e transpirados, armados e com aspecto pouco tranquilizador, não será difícil imaginar a cara do dono da tasquinha à entrada no Mindelo a quem fomos pedir àgua e que nada nos levou por ela apesar da dificuldade na sua obtenção (ainda não havia as actuais centrais dessalinizadoras).