Parte 2 de 2
Retomamos então a entrevista ontem iniciada.
Blog – Dessa ideia passou-se logo a uma decisão?
MC - Foi-me então pedido que desenvolvesse os estudos necessários para construir nas Oficinas Navais de Macau uma lorcha que reunisse os requisitos que se pretendiam. É aqui que começa a minha intervenção. As dificuldades surgidas foram grandes porque quer em Macau, Hong-Kong ou no Sul da China (Cantão) não encontrei elementos desenhados construtivos, dado que os chineses que construíam estas embarcações (lorchas e juncos) não ficavam com grande parte dos desenhos de construção necessários e transmitiam os seus conhecimentos de pais para filhos cada um à sua maneira. Foi à custa de várias visitas a estaleiros tradicionais chineses que se foram colhendo os elementos construtivos necessários.
Blog – Tinhas alguns apoios nas Oficinas para desenvolver esse trabalho?
MC - Nas Oficinas tinha um desenhador projectista que com a ajuda dos mestres das minhas oficinas, sobretudo de carpintaria e caldeiraria naval desenhou os planos necessários à construção. A responsabilidade da coordenação de todos os elementos e a sua execução quer de modelos quer de peças montadas foi por mim assumida. Em Macau não havia engenheiros construtores navais.
Blog – Calculo que ainda tenhas de memória a forma como se desenvolveu o calendário da construção.
MC – Tenho sim. Iniciou-se em 15 de Abril de 1987 a construção da lorcha. O casco foi construído num estaleiro de Coloane e o aprestamento e a fase final de construção foi feito nas Oficinas Navais de Macau. O navio foi lançado à água em 7 de Novembro de 1987 e concluído em 28 de Junho de 1988 (fez agora 22 anos).
Blog – Curto espaço de tempo! Lembras-te que problemas tiveste que superar quanto aos sistemas de propulsão e navegação?
MC – Sim. Quero apenas acrescentar que a réplica da lorcha seguiu na medida do possível os requisitos tradicionais mas teve que se adaptar às exigências de segurança e de conforto da época. Daí que dispusesse de equipamentos de navegação e comunicações modernos para a época e que por via das missões que lhe propunham atribuir foi motorizada com 2 motores de 300 HP cada. Não tinha assim a motor propulsão auxiliar, mas sim principal.
Blog – Estiveste igualmente envolvido na concepção do velame?
MC – Não. Acresce dizer que por desconhecimento pessoal nunca assumi a direcção do aparelho vélico, o qual foi encomendado a um "especialista" de Hong-Kong. Este nunca foi a meu ver satisfatório e daí a vantagem da propulsão mecânica instalada. Não queria terminar sem dizer ainda que a parte final do aprestamento foi feita com a valiosa intervenção daquele que viria a ser o 1º comandante da lorcha - o nosso camarada Sá Leal.
Blog – Caro Cortes, agradeço-te em nome do Blog este reavivar das tuas memórias que acho constituem um bom contributo para a história da presença portuguesa naquele território chinês e especialmente da Lorcha Macau que muita gente desconhece.
2 comentários:
Apesar de lidar com o Zé Cortes quase todos os dias, desconhecia por completo esta sua faceta de "mestre calafate".
Todavia, não me surpreende, esta sua capacidade acrescida, pelo que desta forma "semi-pública", lhe endereço os meus parabéns e cumprimentos, pela tarefa desenvolvida.
Aliás não será de surpreender, as valências acrescidas, que a malta das "classes auxiliares do CR" tem ao longo da sua vida vindo evidenciando.
Vamos lá, isto também é válido para a "classe principal".
Passar bem
Não sei, não, mas cheira-me a ilegalidade...será que a ASAE homologou a embarcação? ou anda aí a circular sem documentação? Sim, porque falsos médicos já eu sabia que havia, agora falsos construtores navais...pelo sim, pelo não, já comuniquei com o IPTM para eles averiguarem.
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