domingo, fevereiro 06, 2011

Recordando: A gota de água?

O nosso professor de luta militar e de esgrima na EN, Major do Exército, estaria em acumulação com a Academia Militar onde teria respostas substancialmente diferentes quanto à participação e entusiasmo dos alunos.

Nos tempos de aula de luta, em que envergávamos apenas sapatilhas sem meias e calções brancos de ginástica - só brancos no início -, não eram muito agradáveis as aulas em terreno enlameado e irregular cheio de poças de água por detrás do edifício do internato. Passámo-las, muitas vezes, deitados no solo de barriga para cima fazendo de tapete humano e rolante para passarmos e para que nos passassem por cima a correr, outras, em menor número, descendo a rebolar umas escadas de pedra junto à lavandaria e oficinas (onde os das classes de Marinha e AN se julga nunca entraram).

As aulas de esgrima (espada ou sabre?), ministradas num barracão metálico também usado para andebol e futebol de salão e para ordem unida em tempo de chuva intensa pelo saudoso Sargento FZ Guerreiro, eram mais calmas, mesmo um tanto monótonas para a generalidade, com honrosas e raríssimas excepções. Com um pormenor não despiciendo para melhor compreensão do episódio que se vai seguir: a porta deste barracão era muito próxima duma das janelas do rés-do-chão do internato, salvo erro duma das casas de banho.

Nesse dia e vendo o “nosso” Major que já tínhamos muitas semanas de esgrima, informou-nos que os dois tempos de aula iriam ser utilizados para um torneio entre todos os elementos da turma. “Rapando” da lista completa dos componentes da turma, o que não era hábito fazer mas que aí se justificava para organizar os “combates”, fez logo soar um sinal de alarme entre os cadetes presentes dada a costumada retirada estratégica do “C” pela sobredita janela logo na entrada para o barracão. Destacado alguém para o ir chamar à camarata ou à sala de estudo onde provavelmente se encontraria, conseguiu-se que chegasse mesmo sobre o seu momento de entrada em acção. Falha-nos na memória se já todos envergavam o “gilet”, talvez não, porque não deu muito nas vistas mas uma primeira suspeição ao mestre, o facto do camarada “C” ter vestido o gilet exactamente ao contrário do que é próprio, como se tratasse dum casaco. Por sinais lá se conseguiu corrigir esse aspecto e também, por mímica por detrás do instrutor, os movimentos para os cumprimentos para o 1º combate que ía iniciar, lá se ultrapassando esse ponto. O pior viria depois, logo a seguir: o “C” que se tinha auto-dispensado das aulas praticamente desde o seu início, não tendo assistido a qualquer lição ou prática dos ataques e das guardas, não fazendo a mínima ideia do que eram as cinco que nos tinham ensinado e praticáramos. Na sua cabeça teria da esgrima apenas um vago conhecimento, mas apenas do que vira nos filmes de capa e espada do D’Artagnan e dos 3 Mosqueteiros ou com o actor Jean Marais. Assim perante o árbitro, o nosso instrutor, e os dois cadetes nomeados para juízes, dá-se início ao 1º assalto a que todos pudemos assistir e que durou muito pouco. Logo que foi dada a permissão para o assalto, o camarada “C” tenta passar à prática tudo que aprendeu, mas só no grande ecran, avançando furiosamente sobre o adversário à espadeirada, deixando este, limitado pelas posições aprendidas e pela pouca prática limitado nas soluções para a inesperada situação.

O Instrutor, dando ordem de imediata suspensão do assalto por estupefacção com tão grave ofensa a tudo o que vinha ensinando, não queria acreditar no que vira e retirou-se do recinto balbuciando palavras que mal ouvíamos e não conseguimos compreender!

Só aqui entra o que o redactor desta memória calculando que este episódio tenha sido a gota de água que fez transbordar o copo. O “nosso” Major, já há algum tempo com pouca convicção sobre os resultados das suas aulas e sentindo alguma falta de apoio superior para esta instrução tão pouco acarinhada pela área académica, sentiu-se completamente amachucado com o que, por desconhecimento da envolvência, considerou uma enorme afronta. Daí o abandono do recinto com manifesta vontade de ali não voltar o que efectivamente se concretizou. E não mais o vimos.

O “C” talvez já não vá a tempo de lhe pedir desculpa pela afronta que na altura não mediu, nem aos seus efeitos e que na sua juventude não lhe passaram sequer pela cabeça!

3 comentários:

Fernando Santos Lourenço disse...

Das "aulas" deste major, o que retenho com maior nitidez (e gozo, perdoem-me o sadoclassismo) era a reacção dele quando nos mandava gritar AAAHHHH! e atirar pró chão, ao que nós (a maior parte)respondíamos com um aahh..e punhamos no chão, primeiro, um joelho, depois, com cuidado para não magoar, o outro...Acho que estes "números" também tiveram um peso relevante para ele ter levantado o bivaque, rumo à Gomes Freire.

s.pinho disse...

Ao comentário anterior que tenho bem presente, acrescento outro: O "nosso" salvo-seja Major, mandou a malta tirar o sobretudo, tendo ouvido, quase em unissono:Sr. Major , nem pensar, já viu o frio que está.O homem passou-se.

M.Sá disse...

Pois eu, do "professor" em questão,a única coisa que me lembro era que gritava de vez em quando a frase: "não chama pela mãe"!!...desconhecendo totalmente em que momentos ou circunstâncias esta frase incentivadora de acção era usada ( isto, quando o Alzheimer ataca não há nada a fazer)