terça-feira, setembro 20, 2011

As 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa

Assisti irregularmente na RTP1 em casa à divulgação final, em Santarém, dos resultados deste exagerado concurso, com a presença de membros do Governo. Resultados, por ordem, não a anunciada mas numa mera hipótese da sua chegada à mesa:

Caldo verde - Entre-Douro e Minho
Sardinha assada - Lisboa e Setúbal - Setubal
Arroz de marisco - Estremadura e Ribatejo, Praia da Vieira Marinha Grande
Leitão à Bairrada -Beira Litoral - Bairrada
Alheira de Mirandela - Trás-os-Montes e Alto-Douro - Mirandela
Queijo Serra da Estrela - Beira Litoral / Beira Interior -Serra da Estrela
Pastel de Belém - Lisboa e Setubal - Lisboa

Votações cerca de 900 mil, não se sabendo quantos em defesa da sua região votaram várias vezes!
Ainda que duma maneira geral gostando de tudo, custa-me aceitar que alguns destes pratos sejam susceptíveis de generalização como maravilhas. Já experimentaram comer um pastel de Belém umas horas depois fora da respectiva fábrica em Belém? Fiz essa experiência em festejos no Restelo e como se tinham passado umas horas já não tinham a ver com o comido no local. A mesma fi-la em Bruxelas, recebendo-os de avião no próprio dia e nem o forno nem o micro-ondas os salvam.
Arroz de marisco há bons e muito maus por muito lado e mesmo em Vieira de Leiria não há unanimidade de qualidade.
O caldo verde tem muito de simbólico mas não se encontra uniformidade de qualidade em nenhuma região. Apesar das minhas várias costelas minhotas ainda acho maior uniformidade de nível nas sopas /açordas alentejanas.
Quanto à sardinha assada não vejo exclusividade de qualidade na região de Lisboa e Setúbal. Que podemos dizer por exemplo desta espécie em Peniche, Póvoa de Varzim ou Portimão só para citar terras começadas por P?
E o leitão, mesmo na Bairrada, tem locais e locais, nem todos lhe fazendo jus.

Já não temos espaço nem a vossa paciência para abordar o impacto no estrangeiro e nos estrangeiros de qualquer destes pratos, porque nesse caso a agulha apontaria para os bons pasteis de nata e pasteis (ou bolinhos) de bacalhau que há por esse mundo fora levados por portugueses!!!

E postas estas minhas interrogações, acho que nos esquecemos de mobilizar e propor em tempo algum Bacalhau à Braz da Marinha, nem todo nos tempos que correm, mesmo em Cascais na Messe em que ainda há poucos meses e na presença dum ex-CEMA, só na quinta repetição em que em todas elas esteve presente, se conseguiu alguma coisa de jeito.

Fico por aqui, porque só de pensar noutras iguarias e doçarias que lá podiam estar representadas já me subiu o colesterol!

4 comentários:

vdias disse...

Com o máximo rerspeito para com as ementas eleitas e considerando ainda as anotações a algumas faltas, tais como, no dizer do JPVB, bolinhos de bacalhau e o mesmo à Braz naval, permito-me ainda, não pudermos esquecer as sandochas de torresmos ou coiratos, a sopa da panela, o pato à Bulhão ( ou será o Bulhão à pato), para além do arroz de grelos.
Já agora para terminar, ainda deveriam ser referenciados como maravilhas da nossa culinária, a celebérrima "comida de urso" e o divinal "murro nos cornos" que muita gente bem precisa.

Fernando Santos Lourenço disse...

O VDias falou em "arroz de grelos". Como é um tipo de prato que (ainda) aprecio, muito gostaria de saber de que tipo de grelo estamos a tratar: se transgénico, se biológico, se outro.

vdias disse...

Compreendendo muito bem a terrível dúvida do Sr. Fernando, passo a responder, na expectativa de o esclarecer completamente e desta forma torná-lo apto a uma correcta apreciação.
É secundário o tipo de grelo, se transgénico, biológico, nacional ou estrangeiro ou qualquer outra variedade, desde que se destine a apreciador credenciado, e com as papilas gustativas ávidas.
O que importa sim, é que não pode ser velho ou congelado. Terá que ser fresco, viçoso (não disse Vigoço), isto é, frescura imaculada, de preferência acabado de colher.
Não necessita de lavagem exagerada, já que se perde um pouco do "travo" que o caracteriza.
Há quem tempere o arroz de grelos com condimentos variados, uns com pimenta, outros com um pouco de caril. Até há quem ponha chantily, mas isso é mais para o arroz doce e não é disso que falamos.
Ewspero que o esclarecimento seja suficiente.
Se alguém ainda não provou, não perca tempo.

Saldanha Carreira disse...

O referido "Grelo Vigôço" é, como se sabe, o mais fresco e viçoso do mercado. Possuindo um aroma tão peculiar, característico e requintado (tipo trufa) que alguns especialistas conseguem detectá-lo desde a amurada de um navio até à distância de várias milhas náuticas.
Digo isto porque já assisti, de perto, a algumas destas operações de farejamento ...