terça-feira, outubro 30, 2012

NE "SAGRES" 75 anos a navegar



Um bom contributo para a história de um navio em que fizemos uma viagem de instrução de 4 meses:

                                              Texto do nosso camarada mais jovem Comte Nuno Sardinha Monteiro*

Neste ano de 2012 é um ano de celebração para o navio escola “Sagres”. De facto, cumpre-se este ano o 75.º aniversário do seu lançamento à água, na cidade de Hamburgo, numa Alemanha sob regime nazi. Neste artigo, conta-se de forma breve a história do navio, que viria a içar a bandeira portuguesa, pela primeira vez, em 1962. Isso significa que este ano também se celebra o cinquentenário do navio ao serviço de Portugal e da Marinha Portuguesa, uma efeméride tão mais significativa quanto se trata do primeiro navio com tão prolongada longevidade na briosa.


O atual navio escola “Sagres” foi construído nos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo, tendo o seu casco sido lançado à água em 30 de outubro de 1937. O navio, então batizado com o nome “Albert Leo Schlageter”, foi o terceiro de uma série de quatro navios escola à vela, construídos para dar instrução aos cadetes da Kriegsmarine (Marinha de Guerra). O primeiro chamava-se “Gorch Fock”, o segundo “Horst Wessel” e o último (que nunca chegou a ser acabado e foi afundado em 1947) “Herbert Norkus”. Os navios possuíam armação em barca, caraterizada pela existência de três mastros, com os dois mastros de vante (traquete e grande) a envergarem pano redondo e o mastro de ré (mezena) a armar pano latino.
Sob bandeira alemã, o “Albert Leo Schlageter” foi um navio azarado. Na primeira viagem, em 22 de março de 1938, colidiu com um navio mercante, sob cerrado nevoeiro, em pleno Canal da Mancha, sofrendo danos significativos que obrigaram a prolongadas reparações em estaleiro. Mais tarde, quando efetuava uma viagem de instrução de cadetes, em 4 de novembro de 1944, embateu numa mina no mar Báltico, abrindo um enorme rombo no casco. O navio esteve próximo de afundar, apenas tendo aguentado à superfície devido à sua compartimentação estanque e ao facto de navegar na companhia do “Horst Wessel”, que aguentou o “Albert Leo Schlageter” até à chegada de um rebocador. Mesmo assim, morreram neste trágico acidente 18 militares da guarnição.
No final da II Guerra Mundial, os quatro navios escola à vela foram sorteados pelas potências aliadas. O “Albert Leo Schlageter”, bem como o “Horst Wessel”, couberam aos EUA, que decidiram entregar o segundo à sua Guarda Costeira, para servir como navio escola, sob o nome “Eagle” (ver tabela). Quanto ao “Albert Leo Schlageter”, foi cedido ao Brasil por um preço simbólico (5000 dólares), como compensação pelas perdas sofridas pela navegação mercante brasileira, vítima dos ataques dos célebres Unterseeboots (ou U-Boats) alemães. Curiosamente, foi no dia 4 de julho de 1948, dia nacional dos EUA, que o navio, ainda atracado na Alemanha, içou pela primeira vez a bandeira brasileira, tendo mais tarde sido rebatizado como “Guanabara” aquando do aumento ao efetivo da Marinha do Brasil.

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