sábado, outubro 03, 2015

Navios com nome "Corte Real" (2)

 Após o afundamento do navio "Corte Real", em 12 de Outubro de 1941, a reacção anti-nazi na opinião pública portuguesa foi de tal maneira forte que no seio do próprio Estado Novo surgiu uma troca de acusações entre o Ministério da Marinha e a Censura na dependência do Ministério do Interior.
  O Chefe do Estado Maior Naval insurgiu-se contra a censura à comunicação social da época. Na sua opinião, tinha deixado passar para o público sensacionalismos e faltas de verdade sobre o afundamento do Corte Real.
   Na opinião do referido oficial, as graves falhas da censura poderiam levar os portugueses a pensamentos subversivos e perigosos sobre a própria ideologia e conduta do Estado Novo naquela guerra. Continuou, dizendo que a maior parte das notícias publicadas não tinham fundamento, e outras, embora verdadeiras não eram nada convenientes para o país que causou o desastre marítimo. O oficial nunca nomeou a Alemanha embora soubesse bem de que potência se tratava.
  Também lembrou que o país em causa poderia negar algumas reclamações pedidas pelo Estado Português devido àquelas notícias.
  A resposta foi dada pelo próprio director da Censura, tenente-coronel Álvaro Salvação Barreto. Começou por afirmar que precisamente sobre os casos de torpedeamento de barcos portugueses nunca houve dúvidas. São sempre de suspender e consultar, isto é, procuram-se as instruções particulares para o caso especial.
 Na continuação da sua resposta ao oficial da Marinha, Salvação Barreto afirmou que a imprensa até tinha sido muito comedida na cobertura feita ao evento, destacando o jornal O Século com a reportagem mais desenvolvida; os restantes pouco falaram, tendo sido até necessário os seus serviços a incentivá-los para referir o torpedeamento. Esta atitude revelava bem os cuidados e atenção que a Censura tinha com a comunicação social para tratar de assuntos com aquela responsabilidade.
  Álvaro Salvação Barreto mostrava e justificava desta maneira que o controle dos seus serviços era completo e eficaz, dando como exemplo o atraso de 2 dias entre o torpedeamento e a sua publicação, como mais um sinal de que a censura tinha levado o seu tempo a avaliar a notícia e só depois a publicou.


NR: O autor do presente trabalho (de Novembro de 2014), Licínio Ferreira Amador, baseou-se no do mestre em História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Ricardo Daniel Carvalho da Silva.     
O referido docente fez uma comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 21 de Outubro de 2011 subordinada ao título “Navios Portugueses afundados durante a II Guerra Mundial. As perdas de um Neutral”, de onde foram extraídos o tema deste trabalho e o excerto em itálico.

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