Do livro amplamente difundido e já de todos os elementos do CR conhecido, não resistimos a divulgar a Nota do Editor, o nosso camarada de Curso HAFonseca:
Nota do Editor
Julgo que
ninguém contesta a importância da figura do “chefe”, qualquer que seja a sua
designação em concreto; numa organização será provavelmente, na maioria dos
casos, a pessoa de maior relevo.
O “chefe”,
como se sabe, está sempre sob observação; tudo o que faz, ou não faz, é
comentado pelos seus subordinados. É quem dá o tom à sua organização, que privilegia
uma atitude em relação a outra e os seus subordinados tendem a “alinhar” com
ele. Um bom “chefe”- atento, dinâmico, competente, motivador- é um
“multiplicador de força”, tira partido dos meios e capacidades da sua
organização e obtém bons resultados. Um mau “chefe”, por outro lado, acaba por
desperdiçar os recursos em pessoal e material que lhe atribuíram e não cumpre
os objetivos que se esperam de si.
Como referia
Camões ... um fraco Rei faz fraca a forte
gente, e Napoleão, num registo diferente, dizia ... não há maus regimentos, há maus coronéis. Em perspetivas
diferentes ambos acentuam a importância da liderança.
No mar, um
Comandante é ainda mais importante. As guarnições vivem isoladas, dias, semanas
ou mesmo meses a fio, nos seus navios, que operam num meio muitas vezes hostil.
Uma decisão errada do Comandante, na navegação ou na manobra, pode colocar em
risco o navio e todos os que lá estão a bordo; a confiança da tripulação na
capacidade profissional do seu Comandante é algo a assinalar e a reter.
Nestas
circunstâncias, se o Comandante é uma figura tão importante, como referimos, há
que escolher sempre os mais aptos para exercerem aquele cargo e dar-lhes a
melhor preparação possível para o exercício daquelas funções.
No passado
aprendia-se a bordo - a chamada formação on-job
- vendo como os nossos Comandantes desempenhavam as suas funções, na maior
parte dos casos pela positiva, retendo procedimentos a ter, mas noutros, pela
negativa, tomando nota de atitudes a evitar.
Fui eu
próprio Oficial de guarnição numa fragata onde tive dois Comandantes, com
estilos de comando diferentes, com quem muito aprendi. Mais tarde, como 1º
Ten., comandei aos 24 anos o draga-minas RIBEIRA GRANDE e mais tarde a LDG
ARÍETE, na Guiné-Bissau; em Cap-Ten fui Oficial Imediato da fragata ALMIRANTE
MAGALHÃES CORREIA e Comandante da corveta AFONSO CERQUEIRA e por fim, fui o
primeiro Comandante da fragata CORTE REAL. Em todas as funções de comando fui
aprendendo, embora cada navio e cada guarnição tenham as suas especificidades e
não haja procedimentos padrão nem receitas definitivas. A dezenas de anos de
distância destes meus desempenhos, julgo que posso dizer, sem ser mal
interpretado, que fui um Comandante com sorte; mas também posso referir que ter
sorte nesta minha acepção, dá algum trabalho e muita preocupação...
Da minha
experiência, se me permitem, gostaria de deixar a quem nos lê duas “dicas”:
“pensar em antecipação” e “sentir a guarnição”.
Como referem
frequentemente os anglo-saxónicos, é sempre bom ... keep your options open
... e think ahead ... ou seja, o
Comandante tem que estar sempre atento às circunstâncias, da meteorologia à
navegação, do Comando superior à sua guarnição, e desenvolver mentalmente
planos B, C, etc, antecipando que a situação pode evoluir de forma diferente do
previsto, do plano A. A experiência e o bom-senso são aqui muito importantes.
A outra dica
refere-se ao ambiente que se vive a bordo, ao “sentir a guarnição”. Saía eu
próprio com frequência da minha camarinha,
passava pela ponte e pelo CO (Centro de Operações) e dava uma volta pelos
exteriores do navio, fazendo ... management
by walking around. Apercebia-me com facilidade se algo de anormal se
passava, do rancho às licenças, pela atitude do pessoal e pelos subtis sinais
que nessa altura me enviavam, e que captava; depois, com o Imediato, com os
Chefes de Departamento e com o Sargento mais antigo tratava de identificar o
problema ... e depois, de o resolver. Aqui também a experiência e o bom-senso
são muito importantes.
Em 2004 e
2005, quando exerci as funções de Comandante Naval, presidi como era costume a
dezenas de cerimónias de “entrega de comando” de unidades navais. Pretendi
então oferecer algo de pessoal aos novos Comandantes, algo que concorresse
também para prestigiar a função e que lhes fosse útil; à falta de melhor,
mandei vir dos Estados Unidos, do U.S. Naval Institute, o livro Command at Sea, que oferecia aos
Comandantes no fim da cerimónia atrás referida, com uma minha dedicatória. Não
era o ideal, mas sim o possível, pois não encontrei entre nós nenhum livro que
me parecesse adequado.
Quando em
2016 editei o livro “Duas Naus, um Cruzador ... e duas Fragatas” achei muito
interessantes os testemunhos dos diversos Comandantes que se sucederam no
comando do N.R.P. VASCO DA GAMA. Em conversa com o Cte. Orlando Themes de
Oliveira, daqui nasceu a ideia de editar um livro tendo como tema o exercício
das funções de Comandante, procurando recolher experiências que pudessem ser
úteis, suscitando reflexão aos atuais Comandantes em funções e aos Oficiais
mais modernos, que mais tarde serão também chamados a funções de comando no
mar.
O livro que
tenho o gosto de agora editar recolhe os testemunhos de antigos Comandantes de
navios de guerra e de navios da Marinha Mercante, incluindo dois textos
assinados por Oficiais da Reserva Naval. Com a ressalva de que sou parte
interessada neste projeto, deu-me muito gosto ler estes textos e estou certo de
que serão úteis a quem for indigitado para Comandante, permitindo-lhe refletir
sobre os diversos aspetos do exercício das funções de comando no mar e mesmo
fazer alguma auto formação; eram estes, aliás, os nossos propósitos iniciais.
Mas não só ! Este livro será também certamente útil para quem desempenhe
funções de chefia ou de comando nos
outros ramos das Forças Armadas e nas Forças de Segurança, e em organizações
civis e nas empresas. Desde que exista um chefe, subordinados e colaboradores, e
objetivos a atingir, as reflexões que os textos aqui publicados suscitam terão
certamente interesse e utilidade.
Ao Prof.
Doutor. João Carlos Espada os meus sinceros agradecimentos pelo seu excelente
prefácio, que muito valorizou esta obra.
Ao Almirante
Nuno Vieira Matias e aos demais autores dos textos, o meu muito obrigado pelos
seus testemunhos e pela partilha da sua rica experiência de mar com os nossos
leitores.
Ao Cte.
Orlando Themes de Oliveira, camarada e amigo de há dezenas de anos e coordenador desta edição, um sentido obrigado
e um abraço de amizade.
À
administração da THALES Portugal e da Edisoft, o nosso reconhecimento pelo
patrocínio que generosamente deram e que permitiu viabilizar economicamente a
edição desta obra.
Uma palavra
última para a Gráfica Lousanense cuja “tripulação” muito se esmerou em atingir
uma produção gráfica de excelente apresentação e muita qualidade.
Termino com
um merecido BRAVO ZULU para os autores dos textos, prefaciador, coordenador da
edição e para todos os que de alguma forma contribuíram para a concretização deste
projeto.