quarta-feira, outubro 03, 2018

CR's em actividade: EFCarvalho e "Os Anais há 100 Anos" dos Anais do CMN

Saudações Navais!
Dois anos após o regresso do Batalhão de Marinha Expedicionário a Angola, o 1º tenente Oliveira Pinto tornou público nos Anais de 1918  (cinco números) a acção do Batalhão de Marinha Expedicionário a Angola.
Na crónica " Os Anais há 100 Anos" presente no  1º volume do 1º semestre 2018 dou a conhecer, parcialmente, esse valioso texto, que retrata, de forma eloquente o dia a dia daquela unidade, desde a preparação até ao regresso a Lisboa.
Retirei uma curta passagem do artigo para eventual colocação no Nosso blog.
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Votos de uma semana agradável
EFC 
(CR32)


Batalhão de Marinha Expedicionário a Angola

  Em fins de Outubro de 1914 começou a falar-se em Lisboa de que se pensava em organizar um batalhão de marinheiros, a fim de ir em reforço das forças do Exercito que haviam partido para Angola sob o comando do tenente-coronel Roçadas, na hipótese de um recontro possível, senão inevitável, com forças da colónia alemã, que confinava ao sul com a nossa; tanto mais que se ia definindo a atitude de Portugal perante o grande conflito europeu. Já a esse tempo se iniciara a organização de um contingente expedicionário do Exercito para os campos da Europa.
  A idéa de se ter recorrido á Marinha para se constituir aquele reforço julgo-a resultante, principalmente, de se ter pensado em que todas as expedições coloniais tinham entrado contingentes de marinheiros, prestando sempre relevantes serviços, devidamente apreciados pelos comandantes, quer pela sua resistência naqueles climas, quer por decisão e valentia, de que sempre deram provas.
  Lançado que foi o convite á Armada, apareceram alguns oficiais que se ofereceram, outros que aceitaram o convite directo que lhes foi feito, e outros que aguardaram o momento da sua nomeação. No Corpo de Marinheiros foi tão grande o numero de voluntários que difícil foi fazer a selecção dos que deviam ser incorporados. 
  Para comandante foi convidado o então capitão-tenente Alberto Coriolano da Costa, oficial que já tinha entrado em operações em África e que tinha bastantes conhecimentos da região em que se teria de operar, por isso que fôra Governador de Mossamedes. (...)
  Para mostrar a boa vontade e entusiasmo com que trabalharam todos os que contribuíram para essa rápida mobilização, e em especial aqueles que iam partir, bastará dizer que o contingente de marinheiros, a que se chamou Batalhão de Marinha Expedicionário a Angola, constituído por três companhias a dois pelotões, duas secções de metralhadoras, serviços de saúde com três médicos, e secção de quartéis com dois oficiais da Administração Naval, embarcou no dia 5 de Novembro, isto é, cinco dias depois de feitas todas as nomeações. Tanto basta para se ajuizar do trabalho enorme de organizar tudo o que uma força de 18 oficiais, 32 sargentos e 500 praças necessita para uma comissão de tal natureza, com pessoal que pouco ou nada tem preparado para os respectivos serviços; sendo de notar que, entre eles, muitos eram bem diferentes dos que são de uso na Marinha; até houve de tratar-se de gado e respectivos arreios! Tudo se fez em cinco dias, porque, como disse, a boa vontade e entusiasmo eram gerais, trabalhando todos no que lhes competia: uns dando ordens, outros transmitindo-as e outros cumprido-as sem a menor hesitação. (...)
  No dia 5 de Setembro de 1915, dia que deverá ficar memorável na historia das nossas campanhas coloniais, foi içada pela primeira vez com as devidas honras a nossa bandeira na Ngiva, capital da vasta região Cuanhama.
  Do Batalhão de Marinha havíamos chegado até ao fim das operações 12 oficiais e 267 praças, isto é, sensivelmente metade dos que tinham partido de Lisboa. (...)
  E quando, por fim, no dia 15 de Outubro de 1915 desembarcamos em Lisboa, poderia parecer que regressávamos de um simples passeio: Quantos assim o julgariam? (...)
  No dia 25 de Outubro foi dissolvido o Batalhão Expedicionário a Angola, sendo louvados pelo seu comandante alguns sargentos que mais se distinguiram, e umas 30 praças que, mais doentes, conseguiram chegar até ao fim das operações.. Posteriormente, no boletim das Colónias, foram louvados todos os oficiais, 7 sargentos e 28 praças. Só depois de um ano foram concedidas as medalhas comemorativas e só actualmente vão sendo condecorados, principalmente com a medalha de valor militar, os oficiais, sargentos e praças.
  Sª. Exª o General Pereira de Eça legou, como é sabido, a sua espada à Corporação da Armada. Cumpriu assim a promessa que nos fizera, no fim das operações, de testemunhar clara e publicamente o apreço em que mostrou sempre ter os serviços do nosso Batalhão. Este facto, só por si, constitui a maior prova de quanto as forças de marinha contribuíram para poder desempenhar a sua espinhosa missão, gloriosamente, como o fez.

(F. Oliveira Pinto, 1º Tenente, Anais do CMN, volume XLIX,1918)

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