Já em Blantyre, na manhã do dia
seguinte tivemos (todos os indivíduos atrás mencionados) uma última reunião com
o Ministro Alek Banda, que tomou conhecimento dos desenvolvimentos ocorridos
até então e, desde logo, quis conhecer o encargo financeiro estimado para a
construção da Base (por fases). No entanto, os técnicos informaram só poder responder
a essa questão após a recolha de uma série de dados e informações, entre os
quais os elementos que me comprometi a coligir e enviar.
Foram também informados os
circunstantes, nessa reunião, da intenção (segundo os israelitas, que a
apresentaram) do Governo Malawiano incluir, no futuro, na Base Naval, uma
escola de mergulhadores e uma estação de radar.
Aproximava-se, então, o fim da minha
estadia no Malawi; o chefe da delegação dos M.Y.P., mr. NTaba, agradeceu a
minha participação e informou-me que iria solicitar, pelas mesmas vias, o meu
regresso ao terreno logo que a primeira fase dos trabalhos fosse iniciada.
Nesse mesmo dia, após o almoço,
regressei a Moçambique. Embarquei no aeroporto de Blantyre em voo regular (com
o apoio de mr. Zimba na passagem da fronteira) e desembarquei na Beira, agora
apoiado de novo pelo dr. Silva e Costa.
No dia seguinte, voltei para
Metangula, via Vila Cabral.
Posto o Comandante da Defesa Marítima
ao corrente do que se tinha passado, para o que elaborei o respectivo relatório
(tinha já deixado um documento semelhante ao engº Jorge Jardim22,
através do dr. Silva e Costa), dediquei as semanas seguintes a compilar os
elementos que me tinha comprometido a enviar para o Malawi.
Após reuniões com os Chefes dos
Serviços do CDM, apresentando-lhes o quadro da situação para a qual eram
solicitados a elaborar as respectivas sugestões de implementação de serviços
homólogos na futura Base Malawiana, aqueles responsáveis entregaram-me, no
prazo previsto, os elementos, abrangendo oito áreas: Abastecimento, Comunicações,
Armamento, Serviço de Assistência Oficinal, Saúde, Pessoal,
Serviços Gerais e Electrotecnia.
Nas cartas referidas, informei o engº
Jardim e, também, os M.Y.P. que o Comandante Naval de Moçambique23
tinha autorizado a ida do tenente Marques Pinto24
juntamente comigo, numa próxima ida a Nkhata Bay, face à sua condição de
técnico de mergulhadores.
O tempo foi passando. A Base começou a
nascer, tendo-se tido conhecimento de alguns reveses na sua construção – terá
havido um aluimento de terras, na sequência de enxurradas, em que morreram
alguns operários –, o que fez atrasar todo o processo. Ao mesmo tempo, aproximava-se
o momento da rotação da minha Companhia para Lourenço Marques, o que veio a
acontecer em meados de Setembro.
Por estas razões e, eventualmente por
outras que não conheci, não voltei, nessa altura, ao Malawi, nem tive mais
qualquer outro contacto com o processo, pelo que desconheço a evolução que o
mesmo teve a partir daí.
Em termos de balanço final, as coisas
correram, penso, bem. Ainda assim, não será fácil para o comum das pessoas
perceberem como é que um oficial da Marinha, ainda jovem, que só tinha passado
pela Escola Naval e por navios, se transforma, de um dia para o outro
(literalmente) num “expert” em instalações militares, nomeadamente bases
navais… ainda por cima, competindo com profissionais de países que, por
razões facilmente compreensíveis, não brincam em serviço, como era o
caso dos israelitas.
Mas eu tenho uma explicação,
imbatível: é o ADN. Os portugueses têm, no seu ADN, um nucleotídeo “endémico”
da raça lusa: o desenrascanso, factor que faz com que mesmo perante
situações intrincadas, muitas vezes, muito mais do que a que agora acabo de
descrever, se resolvam por forma a cumprir a intenção ou o objectivo. Ao longo
dos séculos, muitas vezes ajudou a termos conseguido descobrir o que
descobrimos, a termos conseguido chegar onde chegámos. Penso, também, que
aquele factor igualmente contribuiu, com uma quota-parte não
despicienda, para termos conseguido gerir com dignidade,
profissionalismo e eficácia uma guerra de múltiplos inimigos (alguns deles, amigos
disfarçados), sendo difícil, ainda hoje, ser entendida a extraordinária capacidade
de resposta que um País do tamanho do nosso conseguiu consistentemente
evidenciar, durante mais de uma década, em cenários muito diferenciados.
22 O engº Jorge
Jardim, muito simpaticamente, enviou-me, com data de 29 de Abril, o dia do meu
regresso à Beira, uma carta em que me agradecia a colaboração e o relatório que
fiz, informando-me que tencionava acompanhar-me na próxima visita “para
apreciação mais definitiva do encaminhamento do assunto”
23 CALM Jaime Lopes
24 Então 1º tenente Q.P.
da classe de Marinha Manuel Marques Pinto, também piloto de um dos aviões ao
serviço do C.D.M. e igualmente com o Curso de Mergulhador
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