quarta-feira, fevereiro 13, 2019

Memórias de Tete (1)

Com a alteração em 1970 do dispositivo de Unidades de Fuzileiros em Moçambique a seguir à Operação "Nó Górdio", os Destacamentos de Fuzileiros Especiais (DFE) - anteriormente distribuídos pelo Lago Niassa (Metangula-1 e Cobué-1) e pelo Distrito de Cabo Delgado (Porto Amélia-2)-, passaram  também a ser colocados no Distrito de Tete (inicialmente apenas um DFE e depois dois). O  DFE6 foi o primeiro a para ali se deslocar e tinha por Imediato o Francisco Pina (OC/CR); o segundo a ir para Tete (e Tchiroze) rendendo aquele que regressou à metrópole, foi o DFE5 cujo Imediato foi o JPVB (CR); o terceiro, o DFE11 e que rendeu o DFE5 também no final da Comissão, foi o Cristiano d'Oliveira (CRHC)*. Deu-se assim o caso de se terem realizado entregas sucessivas entre elementos do nosso Curso.
Isto, que passados estes anos achamos curioso e ocorreu na Cidade de Tete (onde ainda tivemos ocasião de ver a canhoneira "Tete" talvez na sua última subida do Rio Zambeze), funciona apenas como intróito a um episódio que se passou com os dois últimos atrás citados:
Os dois Imediatos, terminados os Serviços e especialmente a entrega do que havia no aquartelamento que ocupavam (dentro dum Forte sobranceiro ao Rio Zambeze e em plena cidade onde se encontrava em construção uma moderna ponte), foram dar uma volta pela cidade em que as distracções, para além dum cinema à noite, eram diminutas. Uma delas, numa cidade em que as temperaturas durante o dia eram muito elevadas rondando várias vezes os 40º centígrados e até mais, era ir comer um gelado, que não era de cone e vinha embrulhado; cerca das dezassete horas, passeando e conversando, entraram por um jardim bastante arborizado e muito bem arranjado que se situava no centro da cidade, deliciando-se com essas guloseimas, no fim das quais se colocou a questão de saberem onde colocar os papéis que os embrulhavam. Olhando em volta não encontraram qualquer recipiente e o chão do jardim encontrava-se impecavelmente limpo, até porque a uns vinte metros se encontravam dois africanos com as respectivas vassouras que seriam os encarregados dessa limpeza, já com ar de que se iam retirar após terem concluído o trabalho desse dia. Dirigiram-se os nossos camaradas a estes dois elementos, com esperança de que indicassem o cesto para lixo daquela natureza, colocando-lhes essa mesma questão: Onde poderiam colocar os papéis dos gelados?
E receberam a completamente inesperada resposta:
-Não faz mal, atirem para o chão que nós amanhã estamos aqui a varrer outra vez.

Nota* Penso que a seguir, os elementos do CR que para ali foram já não seguiram como Imediatos de DFE  mas como Comandantes de DFE (Portero, Matias Cortes).

                                                                                                                                  JPVB

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