sábado, fevereiro 28, 2009

Recordando camaradas: Manuel A. F. Pina

Este ano não é bissexto e assim de 28 de Fevereiro saltamos directamente para o primeiro de Março. Saltamos o 29 de Fevereiro, em que no distante ano de 1944 nasceu o "Xico" Pina. Faria agora 65 anos, ou, contando apenas os bissextos uns 16. Recordamo-lo através duma memória que alguém do CR escreveu, para os Anais do CMN, pouco depois de nos ter deixado.

"Caro Pina

Regressado de férias há alguns dias, reiniciei o envio de mails como regularmente fazíamos quando ficaste mais retido e doente em casa. Reendereçei-te também alguns que aqui tinha empilhados na minha ausência e causou-me estranheza o teu silêncio. Mas não tanta porque já doutras vezes tinha acontecido em pleno Verão. Ía hoje mesmo enviar-te uma mensagem com novidades da Marinha que tanto gostas de acompanhar.

Afinal telefonaram-me há momentos, a pedir-me para escrever umas linhas sobre ti para os Anais, porque não estavas cá na Terra há uns dias. E como frequentemente acontece em período de férias, ninguém me avisara de que tinhas partido.

  • Começando já a saudade dos bons momentos que passámos juntos na Marinha, faz também todo o sentido recordar numa pincelada o que foi a tua vida militar.
    Nasceste em Fevereiro de 1944, ano bissexto que permitiu que viesses ao mundo no dia 29 desse mês, e vieste a ser incorporado na Armada em 03 de Setembro de 1972.
    Logo à saída da Escola Naval em 1967, já guarda-marinha, passaste a fazer parte dos “homens de ferro em navios de madeira” de onde te foram buscar para o Curso de Fuzileiros Especiais. No curso de oficiais, frequentado com mais 4 guarda-marinhas e um 1º tenente fazendo juz a que “mais suor vertido no treino, menos sangue derramado em combate”, ali, ao lado, em Palhais, tua terra natal, eras “obrigado” a atravessá-la em primeiro lugar destacado, sempre que a intensa actividade física o ditava, o que a nossa juventude e irreverência então permitia. De 1968 a 70 desempenhaste as funções de Imediato do Destacamento n.º 6 de Fuzileiros Especiais (DFE 6) em Moçambique (no Niassa, em Cabo Delgado e a primeira unidade em Tete), onde puseste à prova o teu equilíbrio nas relações humanas e de serviço, a par com a força de vontade e firmeza de convicções e decisões, em ambiente de risco exigindo elevado espírito de sacrifício e resistência física.
    E voltaste aos Draga-Minas, embarcando na maioria dos operacionais e comandando o NRP “Lages”, para mais tarde, nos anos 80, desempenhares durante 5 anos as funções de Director do Centro de Instrução de Minas e Contra-Medidas; nestas foi publicamente reconhecida a tua autoridade técnica mesmo entre FFAA estrangeiras, representando Portugal nos grupos de trabalho da Aliança Atlântica e nas conferências da Guerra de Minas sempre com a maior competência e dignidade.
    Num interregno na guerra de minas e no campo da inactivação de engenhos explosivos em que por inerência de funções te envolveste empenhadamente e “com entusiasmo por tudo quanto respeita ao Serviço da Nação”, ainda são de salientar: um período ligado à instrução e ao planeamento de novo na Escola de Fuzileiros e no Batalhão de Fuzileiros nº.1 de 1975 a 77 e, logo a seguir, cerca de 4 anos, como Ajudante de Campo do Presidente da República General Ramalho Eanes em que mais uma vez ficaram registados os teus dotes pessoais e profissionais e as tuas qualidades de trabalho.
    Depois da frequência do curso do NATO Defence College em Roma em 1990, exerceste durante 3 anos funções internacionais na NATO no International Military Staff do Quartel-General, em Bruxelas. De regresso ao teu país para a Direcção do Apoio Social onde para além do excelente trabalho que desenvolveste como Director, granjeaste estima e amizade, em especial dos teus colaboradores, que se prolongou muito para além da tua saída desse cargo.
    A tua vida de mar, intensa até 1987 e em que nunca chamaste o “Gregório” à colação, não se esgotou nos draga-minas. Também passaste pelas corvetas e fragatas das classes “João Coutinho” e “João Belo”, como Oficial Imediato.
    No fundo, uma vida militar cheia, diversificada e dando testemunho de grande profissionalismo, entusiasmo e espírito de bem servir em todas as circunstâncias, registada para a posteridade em inúmeros louvores e condecorações nacionais e estrangeiras, em que se destacam uma Cruz de Guerra de 4ª Classe, a Comenda da Ordem Militar de Aviz, três medalhas de prata de serviços distintos, as medalhas de Mérito Militar de 2ª e 3ª classes e uma Cruz Naval de 2ª Classe.
    Visto estes aspectos do teu percurso e que mesmo na doença tiveste ânimo e boa disposiçãopara todos os que te rodearam, até a perseverança de te deslocares a Lisboa para continuar os teus estudos de língua chinesa, deves certamente arranjar aí um processo qualquer para que
    continuemos a escrever-nos, talvez um mail manuel.pina@netqualquercoisa.céu que é onde certamente estarás. Á (Maria) Natália, tua companheira de toda a vida, das provações e alegrias, aos vossos filhos Isabel, João e Ana Rita, deixamos aqui as nossas muito sentidas condolências.
  • A ti Xiico Pina, até qualquer dia, pois estamos por cá todos de passagem."

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