domingo, dezembro 25, 2022

Não se enganou!

Repito, não se enganou. Apesar do aspecto ser diferente, este é o blogue do Curso Corte Real, apenas com um novo cabeçalho. Porquê?

Tudo muda e evolui, "Todo o mundo é composto de mudança", porque não o nosso cabeçalho? Nascida a ideia, com a decisiva contribuição do Bonina Moreno, a quem devemos a concepção e execução, está concretizada, estando o CR a caminho de comemorar os 60 anos de admissão na Escola Naval, onde teve o seu nascimento.

Se digitalizássemos as mudanças do mundo e as pudéssemos ver representadas a cores e a tempo real, possivelmente obteríamos uma visão efervescente muito colorida, em permanente alteração, zonas onde a cor seria mais estável, outras em que a variação apareceria mais irrequieta, talvez fôssemos capazes de reconhecer alterações de comportamento influenciando a vizinhança e provocando autênticas tempestades de mudança ou outros casos em que a irrequietude seria amortecida até renascer de novo, continuando um eterno e variado baile. Nunca encontraríamos nessa visão a ausência de movimento, nem dois momentos idênticos em toda a sequência, escapar-nos-ia a visão de estabilidade ou a ideia de futuro desejável. Como um mar em que a ondulação nunca se repete, apesar das percepções de similitude que possamos construir.

Que "potestade, ameaço divino ou segredo" alimentará tal permanente e imprevisível instabilidade, se não a diferença, como a da pressão leva ao vento, o de potencial leva ao raio, a da gravidade leva ao fluir da água? Uma permanente procura de novos estados, não necessariamente melhores ou mais estáveis, parece universal e mesmo compulsiva. E enquanto as coisas inanimadas seguem sempre os ditames das diferenças alheias, como uma pedra que rola só se empurrada por alguma força e só pára quando encontra outra, os seres vivos lutam em permanência durante o período em que estão vivos por alguma autonomia, gerando a força para se manterem no ar, voando, ou a habilidade para trepar o tronco de uma árvore procurando o alimento, o mais das vezes à custa de outros seres vivos, que lhes fornecerá a energia necessária nessa luta de vida ou morte. Energia essa que, também ela, procura avidamente a entropia máxima que consiga encontrar.

Eis a razão da mudança do cabeçalho: viver num mundo em constante mudança, na companhia, mesmo que ténue e remota, de com quem nos sentimos bem. Nele retivémos as palavras do fundador do blogue, Joaquim Francisco de Almada Paes de Villas-Boas, "Um ponto de encontro dos camaradas do Curso Miguel Corte Real, onde se procura reavivar o passado e partilhar o presente" porque ela representa a bóia a que estamos amarrados.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões

 

Um Ano Novo cheio de felicidade

segunda-feira, dezembro 19, 2022

Encontros do CR: Almoço em 9DEZ2022


Em 9 de Dezembro de 2022 teve lugar mais uma confraternização dos membros deste curso, desta feita no Clube House Golf, Herdade da Aroeira, associando o sempre grato convívio a um local tão aprazível como convidativo, à proximidade das festividades do Natal e à recepção de um novo ano. Estiveram presentes 17 camaradas, que com suas esposas totalizaram 30 convivas, tendo, infelizmente, diversos imprevistos impedido que as presenças tivessem sido mais numerosas.

Após a distribuição de um saboroso cozido à portuguesa, Vasconcelos da Cunha criou um momento de reflexão, em torno de 3 poesias de que referiu ter-se servido "para fazer o elogio e a necessidade de mantermos estes contactos regulares com que alimentamos a nossa amizade e espírito de grupo que, forjados num sonho comum e reforçados na sua vivência e recordações, nos guiam hoje a respirar o cheiro a alga da maresia e a procurar colher a estrela do mar nas cidades navio". Tomamos a liberdade de transcrevê-las

 

Marinheiro sem Mar
Sophia de Mello Breyner
Longe o marinheiro tem
Uma serena praia de mãos puras
Mas perdido caminha nas obscuras
Ruas da cidade sem piedade

Todas as cidades são navios
Carregados de cães uivando à lua
Carregados de anões e mortos frios
E ele vai baloiçando como um mastro
Aos seus ombros apoiam-se as esquinas
Vai sem aves nem ondas repentinas
Somente sombras nadam no seu rastro.
Nas confusas redes do seu pensamento
Prendem-se obscuras medusas
Morta cai a noite com o vento

E sobe por escadas escondidas
E vira por ruas sem nome
Pela própria escuridão conduzido
Com pupilas transparentes e de vidro

Vai nos contínuos corredores
Onde os polvos da sombra o estrangulam
E as luzes como peixes voadores
O alucinam.

Porque ele tem um navio mas sem mastros
Porque o mar secou
Porque o destino apagou
O seu nome dos astros

Porque o seu caminho foi perdido
O seu triunfo vendido
E ele tem as mãos pesadas de desastres

E é em vão que ele se ergue entre os sinais
Buscando a luz da madrugada pura
Chamando pelo vento que há nos cais

Nenhum mar lavará o nojo do seu rosto
As imagens são eternas e precisas
Em vão chamará pelo vento
Que a direito corre pelas praias lisas

Ele morrerá sem mar e sem navios
Sem rumo distante e sem mastros esguios
Morrerá entre paredes cinzentas
Pedaços de braços e restos de cabeças
Boiarão na penumbra das madrugadas lentas.

E ao Norte e ao Sul
E ao Leste e ao Poente
Os quatro cavalos do vento
Sacodem as suas crinas

E o espírito do mar pergunta:

 «Que é feito daquele
Para quem eu guardava um reino puro
De espaço e de vazio
De ondas brancas e fundas
E de verde frio?»

Ele não dormirá na areia lisa
Entre medusas, conchas e corais
Ele dormirá na podridão
E ao Norte e ao Sul
E ao Leste e ao Poente
Os quatro cavalos do vento
Exactos e transparentes
O esquecerão

Porque ele se perdeu do que era eterno
E separou o seu corpo da unidade
E se entregou ao tempo dividido
Das ruas sem piedade.

Os Amigos
Sophia de Mello Breyner

Voltar ali onde
A verde rebentação da vaga
A espuma o nevoeiro o horizonte a praia
Guardam intacta a impetuosa
Juventude antiga -
Mas como sem os amigos
Sem a partilha o abraço a comunhão
Respirar o cheiro a alga da maresia
E colher a estrela do mar em minha mão

 

Pus o meu sonho num navio
Cecília Meireles (poetisa brasileira)

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

 

Noutro momento, Silva da Fonseca lembrou que o curso completa em 2023 os 60 anos (60!...) da entrada para a Marinha, justificando-se alguma celebração da efeméride, e propondo a constituição de um grupo de camaradas para definirem como se poderá concretizar, o que foi aceite.

Participaram: Bonina Moreno e esposa, Caldeira dos Santos e esposa, Cardoso Anaia e esposa, Costa e Silva e esposa, Costa Roque e esposa, Freire de Menezes, Marques de Sá e esposa, Matias Cortes e esposa, Moreira Pereira, Pereira Bento e esposa, Possidónio Roberto e esposa, Rebelo Duarte e esposa, Rebelo Marques, Reynaud da Silva, Silva da Fonseca e esposa, Silva e Pinho e esposa e Vasconcelos da Cunha e esposa, que gentilmente permitiram que se registasse o momento na fotografia que acima reproduzimos.

Um bom Natal e que o Ano Novo se componha apenas de momentos felizes.


quinta-feira, dezembro 01, 2022

Aniversários de elementos do CR: Dezembro 2022

Durante Novembro, a crer na comunicação social, a população mundial ultrapassou os oito mil milhões de pessoas. É interessante comparar este número com a população existente em 1900, e 2000, contabilizadas respectivamente em 1,65 e 6,15 milhares de milhões. 

As previsões levam a pensar que os 9 milhares de milhões serão ultrapassados um pouco antes de chegado o ano 2040 e que antes do fim do século XXI serão ultrapassados os 10 milhares de milhões, mas o crescimento terá cessado. 

De facto, a taxa de crescimento da população mundial está em queda e chegará o fim de décadas de rápido crescimento. Se olharmos para o número de menores de 15 anos, verifica-se que, sendo em 1950 cerca de 0,87 milhares de milhões são hoje à volta de 2 mil milhões, mas a taxa de crescimento está próxima do zero, prevendo-se que se torne negativa. A mesma tendência podemos descortinar para os menores de 25 anos, cujo número hoje é de cerca de 3,25 milhares de milhões, mas que, talvez antes de 2050, tenderá a descer.

E em Portugal? Os menores de 15 anos apresentam uma taxa de crescimento negativa desde o início dos anos 80, o que também acontece com os menores de 25 anos, e continuarão a tendência, possivelmente com uma taxa menos negativa. Os anos futuros trarão uma diminuição do peso da juventude, e isso não exclusivamente em Portugal.

Na Europa a população já está em diminuição; nas Américas prevê-se que tal venha a acontecer um pouco depois de meados deste século, assim como na Ásia; a África é a única região em que a população continuará a crescer até ao fim do século. Por volta dos anos 50 deste século, prevê-se que cerca de 54,5% da população do mundo viva na região da Ásia (55,1% em 1950), 25,6% na da África (9,1% em 1950), 7,3% na da Europa  (22% em 1950), 7% na da América do Norte (8,7% em 1950), na da América do Sul 5,6% (4,5% em 1950) e na da Oceania 0,6% (0,5% em 1950.

Segundo o Our World in Data, que temos vindo a seguir, é um momento extraordinário na história global. A taxa de crescimento da população global atingiu um máximo há meio século, e o número de nascimentos está, por sua vez, a caminho de a atingir. No passado, com uma elevada mortalidade infantil, apenas 2 crianças por mulher atingiam a idade adulta, gerando uma elevada resistência ao crescimento, e, no futuro, essa resistência será devida à baixa fertilidade. Curiosamente, 2 filhos parecem vir a ser a norma, tal como no passado.

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Em Novembro, a guerra na Ucrânia continuou o seu destrutivo percurso, mas felizmente, com a mediação diplomática da Turquia foi possível evitar a suspensão do acordo que tem permitido o escoamento de cereais ucranianos. As forças da Federação Russa retiraram da cidade de Kherson, cuja ocupação fora feita pouco tempo depois de ter sido desencadeada a invasão da Ucrânia. O movimento gerou boa quantidade de análises por parte de observadores e foi precedido de um pouco convincente filme noticioso onde são indicados os objectivos, entre outros preservar a prontidão para combate das unidades envolvidas, libertar algumas delas para empenho em outras zonas e diminuir o sofrimento da população. Quaisquer que tenham sido as razões, foi inegavelmente um momento vitorioso para a Ucrânia, mas que não interrompeu o ataque às infraestruturas ucranianas de produção e distribuição de energia.

A meados do mês dois mísseis de fabrico russo caíram no território da Polónia, causando a morte de duas pessoas, tendo provocado uma onda de preocupação por, numa primeira fase se ter admitido que seria um acto intencional por parte da Federação Russa, podendo levar ao envolvimento da NATO no conflito, o que não se veio a confirmar. Embora o míssil fosse de fabrico russo, o seu disparo foi da responsabilidade das forças ucranianas, durante acções de defesa anti-aérea, e tratou-se de um infeliz acidente.

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Neste mês de Dezembro celebrarão o aniversário os seguintes membros deste curso, a quem enviamos um abraço de parabéns:

02DEZ (1943) Paulo Guilherme Marques Reynaud da Silva
03DEZ (1943) Gonçalo de Jesus Guerreiro Cordes Valente
04DEZ (1943) Alexandre Cabral de Noronha e Menezes
07DEZ (1944) Fernando Alberto dos Santos Lourenço
19DEZ (1943) Amadeu Cardoso Anaia
19DEZ (1944) Manuel Aníbal Coelho Rebelo Marques
25DEZ (1946) Henrique Alexandre Machado da Silva da Fonseca

Não podemos também deixar de lembrar, com saudade, o Rocha da Silva, nascido a 02DEZ1944. 

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A não esquecer

O tradicional almoço de Natal do CR está previsto para o dia 9 de Dezembro.