F.S.Lourenço
O nosso Curso Miguel Corte Real, o CR, passou, está a passar, por uma
fase das mais negras da sua existência de quase seis décadas (a propósito,
ainda há muito pouco tempo, sei lá, há
uns meses, nem foram muitos, andámos a tratar do programa dos 50 anos do
ATD da nossa singradura; um destes dias, olhei para o calendário, 2023 é já
daqui a muito pouco. À atenção dos nossos almirantes, inibidos de alijar
responsabilidades neste campo. Ao cuidado, também, de quem tem capacidade e
saber para materializar a afirmação deste relevante marco).
Dos Cursos da Escola Naval nossos contemporâneos, o CR foi certamente o
mais atingido pela violência de uma situação (para a esmagadora maioria do
país, do mundo) totalmente inimaginável há menos de 2 anos.
Ao longo das décadas da viagem comum, fomos perdendo muitos dos nossos,
hoje um, amanhã outro. Mas as condições em que essa erosão decorreu foram, de
certa forma, aquelas que a lei da vida impôs desde os primórdios da humanidade.
Agora, e num registo brutal, fomos surpreendentemente atingidos por aquilo que,
até certa altura, achávamos esperançosa e egoisticamente, que só acontecia a
outros, noutras paragens.
E tenho a noção de que ficámos em estado de choque, retraímo-nos,
alimentámos um silêncio pesado, mas simultaneamente elevámos a nossa
preocupação, de cada um com o estar dos outros. Convocámos, de uma forma muito
especial, a nossa estima e afecto, envolvendo-os consistentemente na relação inter CR´s.
O Almeidinha, e o Villas, eram, melhor dizendo, são dois CR´s especiais.
Como todos os outros. Como o Curso.
E são, porquê? Porque todos
os CR´s, tenham ou não passado a barreira que nos conduz à eternidade, são
do CR, estão juntos, enquanto pelo menos um permaneça na sua comissão terrena;
depois do último partir, então poder-se-á afirmar que éramos do CR, aquele Curso especial.
E os outros Cursos, particularmente aqueles com os quais convivemos mais
de perto? Serão especiais? São, com certeza. Mas compete aos respectivos
integrantes atestar essa condição.
Recupero, agora, os desassombros e
o discurso em modo expansivo que ele
apresentava nos nossos convívios, a que raramente faltou…às vezes, polémico,
outras, contestatário, mas, sempre, companheirão, o Almeidinha tem uma marca
indelével no universo CR. E bem merece (muito vai apreciar) que o seu SCP lhe
“preste” este ano uma homenagem de primeira ordem.
E o Villas? Se eu tivesse que escolher alguém para caracterizar o CR,
escolhia o Villas. Qualquer um a quem se falasse do Villas-Boas, assumia nele sempre
a sua condição CR. Este blogue? É dele. É nosso, mas é dele. Não foi só o criador;
da preocupação com a sua sobrevivência, o cuidado e empenho na indispensável alimentação, somos todos testemunhas reconhecidas.
E sendo a manutenção do blogue CR um dos seus objectivos prioritários no
nosso universo naval, agora, que ele saiu de quarto, compete a todos nós
rendê-lo e, certamente não com a mesma eficácia, assumir o leme e os
telégrafos, continuando a tal singradura de muitos anos.
Portanto, mais uma vez nos é pedido que “desconfinemos”; descrevamos as nossas reflexões, comentemos as de
outros. Aqui, no blogue CR. Não custa nada, é só vencer a inércia.
E o Villas vai gostar.