sexta-feira, setembro 22, 2023

60 Anos depois, o CR visita a Escola Naval

 

A. Rebelo Duarte
A.J. Possidónio Roberto

Integrada no programa da celebração do 60º aniversário da entrada na EN, decorreu a visita à nossa Escola no passado dia 20 de Setembro.

A visita cumpriu o tradicional modelo deste tipo de eventos de regularidade anual, abrindo com a recepção aos membros do “sexagenário” curso, à entrada da porta principal, com a retribuição das boas-vindas na pessoa do seu Comandante e staff.

Seguiram-se as demais etapas da visita, que incluiu a  assinatura do Livro de Honra da Escola Naval (Sala Macau); um briefing acerca da missão, organização e ensino da EN, incluindo os desafios e dificuldades que actualmente impendem sobre o ensino superior militar, no seu conjunto; uma visita às instalações percorrendo o Auditório Limpo Serra (a referida apresentação institucional da EN), SIMNAV, Museu, Internato Novo, Edifício Escolar; assistência ao desfile do Batalhão do Corpo de Alunos, antecedido pela cerimónia da passagem do seu guião – pelo chefe do Curso “CALM Manuel Abrantes Ferraz”, que conclui a formação na EN, jurando bandeira com entrega das espadas na cerimónia de 29SET23 –, e a alocução aos cadetes pelo nosso camarada Silva da Fonseca, V/Alm Ref:

 

Senhor Comandante da Escola Naval, Contra - Almirante Rodrigues Campos,
Senhores Oficiais,
Membros do Curso Miguel Corte Real,
Cadetes do Corpo de Alunos da Escola Naval:

 

À vossa frente estão os membros do curso que tem por patrono o navegador Miguel Corte Real, na nossa gíria naval, o “CR”.

Éramos mais de sessenta, quando em setembro de 1963 atravessámos o Mar da Palha numa vedeta, desembarcámos no Alfeite, subimos a colina e entrámos na Escola Naval.

Juntaram-se-nos mais dezena e meia de cadetes repetentes, provenientes do curso anterior. Éramos assim uns 75.

Mais de duas dezenas de camaradas já partiram, já não estão entre nós; recordamo-nos deles com saudade, daqui lhes enviamos um abraço apertado!

Outros, infelizmente, muitos, por razões de saúde, não podem estar presentes. E outros ainda residem fora da região de Lisboa, ou no estrangeiro.

No nosso tempo, os cursos da Escola Naval eram de quatro anos, comprimidos em 3 anos e 3 meses devido à necessidade de Oficiais para a guerra de África. A Escola Naval, a nossa alma mater preparou-nos bem para sermos oficiais de Marinha. À saída, fomos chefes de serviço e oficiais de quarto à ponte em fragatas e patrulhas, ou Comandantes de pequenas unidades.

Alguns de nós continuaram os estudos universitários, em Portugal ou nos Estados Unidos; e puderam constatar a excelência do ensino na Escola Naval.

Aqui, com os camaradas de curso, forjámos amizades para toda uma vida! 

À saída de Escola Naval, em 1967, a maioria de nós foi mobilizada para participar na guerra de África – ou guerra colonial, ou guerra do Ultramar – a bordo de unidades navais, nas unidades de fuzileiros, ou em lugares de apoio, em terra.

Eu próprio fiz uma primeira comissão embarcado na fragata COMANDANTE JOÃO BELO, em Moçambique; recordo a patrulha da Beira, os desembarques na costa a sul do rio Rovuma e as ilhas Quirimbas, ilhas de coral ao largo da costa norte de Moçambique.

Fiz depois uma segunda comissão, como Comandante de uma LDG – Lancha de Desembarque Grande. O “25 de abril ” apanhou-me na Guiné-Bissau; trouxe o navio para Cabo Verde e depois para Angola e S. Tomé, onde fiquei até abril de 1975.

A Marinha, depois do 25 de novembro de 1975, recentrou a sua atividade na NATO; por três vezes integrei, a bordo de uma fragata, a STANAVFORLANT, uma força naval aliada, entretanto desaparecida, substituída por duas outras com outras designações.

Muitos de nós, do curso CR, fizemos carreira na Marinha, até passar à reserva e à reforma; outros saíram mais cedo e tiveram ainda atividade profissional na vida civil.

À distância de sessenta anos poderemos perguntar-nos: se pudéssemos retroceder até 1963, o que faríamos? Respondo por mim; muito provavelmente, voltaria a concorrer à Escola Naval e a fazer carreira na Marinha!

Na área do treino, na Marinha operacional a que sempre estive ligado, costuma dizer-se “treino difícil, combate fácil”.

Cadetes do Corpo de Alunos! Aproveitem bem os vossos cursos na Escola Naval, o período em que aqui estão; se o fizerem, terão o caminho facilitado mais tarde, e certamente, carreiras de sucesso.

Vou concluir estas minhas breves palavras.

Cadetes do Corpo de Alunos da Escola Naval! O curso que tem como patrono Miguel Corte Real, o CR aqui presente, deseja-vos as maiores felicidades nos vossos cursos e nas vossas carreiras futuras, quaisquer que elas sejam!

 

Fomos privilegiados com um excelente almoço oferecido pelo Comandante, na sua camarinha, contando ainda com a presença do 2º Comandante, CMG Brandão Correia, Director de Ensino, CMG Plácido da Conceição, Comandante do Corpo de Alunos, CFG Saldanha Junceiro, o Director do CINAV, CFG Lourenço Gorricha e o Chefe do Gabinete de Relações Públicas e Protocolo, 1TEN Pedro Janica.

Este convívio gastronómico foi enriquecido com a presença muito agradável e participada de cadetes representantes dos 5 cursos ainda na Escola. No fim, foram convidados a emitirem as suas opiniões acerca do convívio que acabavam de desfrutar, e, causaram, com a sua desenvoltura e impressiva sinceridade, a melhor das impressões no conjunto dos elementos do CR presentes.

 

A estadia, das 10:30h até às 16:30h, de tão rápida que passou, será o melhor sinal do muito agrado que causou na comitiva visitante, encerrando com uma fotografia do grupo, anfitriões e jovens ex-cadetes do CR, na Entrada Principal da EN.

De realçar, para além da enorme cortesia com que fomos recebidos pelo Comando da EN e da cuidada preparação colocada na recepção aos visitantes do CR, bem demonstrativo do grau de profissionalismo, acima de tudo a vontade das actuais gerações de preservar os valores e princípios cultivados na Marinha em geral e na “alma mater” em particular.

Os sentidos agradecimentos à Escola Naval e aos seus responsáveis, especialmente ao seu Comandante, C/Alm Rodrigues Campos, e colaboradores próximos, pelos momentos verdadeiramente agradáveis e até emotivos, com que nos brindaram e que iremos guardar para sempre, suscitados por esta recente ida à instituição do “alto da colina” do CN/BNL, no Alfeite, que o novos cadetes CR subiram em 02 de Setembro de 1963.

Deste "sexagenário" curso CR, participaram os camaradas Bonina Moreno, Caldeira dos Santos, Carlos Fidalgo, Freire de Menezes, Lopo Cajarabille, Matias Cortes, Medeiros de Sousa, Possidónio Roberto, Rebelo Duarte, Reynaud da Silva, Rodrigues Portero, Santos Lourenço, Silva da Fonseca e Silva e Pinho.