sexta-feira, maio 28, 2021

Boina Recuperada

 

Chegou ao conhecimento da nossa redacção que a boina de fuzileiro do AViegas, que se encontrava em parte incerta há já largos meses, foi finalmente descoberta como resultado de porfiada procura.

Segundo o nosso informador, que preferiu permanecer anónimo, a operação foi levada a cabo por uma TFF (task force familiar) que se empenhou decididamente em resolver de uma vez por todas o misterioso e suspeito desaparecimento, tendo obtido total sucesso, não tendo sido, porém, divulgados pormenores da operação, motivos do desaparecimento ou local onde se encontrava a boina.

                       

Sabemos que toda a equipa está de boa saúde e a boina perfeitamente usável, como atestam as fotos que publicamos.

Parabéns à equipa SAR, e abraços ao fuzileiro. Até depois da pandemia.



quarta-feira, maio 26, 2021

A DOCA DA MARINHA

(ou “A Doca do Campo das Cebolas”?)

(“Ensaio” com o mote Doca da Marinha)

 F.S.Lourenço

Todos nós temos, certamente, episódios passados e imagens impressivas que, ao longo dos anos, nos marcaram de forma relevante e que, recorrentemente, afloram à superfície do oceano dos nossos pensamentos, servindo muitas vezes como escape da pressão dos problemas das nossas vidas.

Essas memórias marcantes do passado são de vários tipos: sentimentais e afectivas, resultantes das relações com outras pessoas, nas diversas fases da nossa existência; profissionais, decorrentes das experiências vividas ao longo da carreira; e outras, de caracterização mais difusa, muitas vezes um misto das anteriores, ou resultantes de episódios relevantes por que passámos.

Das primeiras, não será talvez tempo de falar; a maioria não prescreveu, pelo que o mais avisado é deixá-las no porão da amarra da nossa cloud memorial.
Vamos, então, às restantes: e assim, quase sempre no início dos meus dias (umas vezes, mais de madrugada, outras, não tanto), uma série de imagens e factos emerge no consciente, num desejo assumido de formatar o dia, que se segue, nas melhores condições para o enfrentar.

E quais são essas imagens e esses factos? Quando recorro ao arquivo “Marinha”, felizmente não tenho qualquer dificuldade em preencher o “programa” desse dia; a Marinha deu-me praticamente tudo o que eu juntei neste meu percurso, já algo avançado: foram os seus princípios, que eu avoquei; os traços de carácter, que aperfeiçoei; o relacionamento social, o conhecimento de novos mundos, o orgulho do botão de âncora, o objectivo de uma vida. 

E então, lá se perfilam cenas na Escola Naval, imagens da Base Naval de Lisboa (a dos anos 60/70 do século passado, cheia de navios nas pontes-cais, com centenas de pessoas, para cá e para lá, infelizmente a antítese da actual, já há muitos anos correspondendo à imagem que um antigo ministro, num pós-almoço de verão e a propósito da localização de um aeroporto, usou para caracterizar as terras lusas a sul do Tejo); e também me ocorre o “S. Gabriel”, na Venezuela e em Cabo Ruivo; a “Sacadura Cabral”, em França; a minha Companhia de Fuzileiros, em Moçambique; a “Roberto Ivens”, na “difícil” Angola de 1975 e o Hospital da Marinha, que desde a primeira hora frequentei e ao qual me mantive ligado até ao seu fim, lamentável pela forma e pelas razões. E o QNG (Quadro dos Navios de Guerra), onde passei muitas noites amarrado à bóia, invejoso dos movimentos nocturnos na cidade…

E a Doca da Marinha.

A Doca da Marinha foi o primeiro local, do então meu futuro, que conheci. No ano anterior à Marinha me acolher, trabalhei no Ministério das Finanças, num departamento com janela a dar para a Doca; via o movimento, o aprumo do pessoal fardado. Fui assim, estribado numa assumida relação de topofilia, alimentando a esperança e reforçando o desejo que vim a concretizar. Ali embarquei numa vedeta (VP9?) para ir a uma Escola que me esperava, que me impunha um respeito muito grande e que poderia vir a ser, como foi, a porta de entrada de um mundo totalmente desconhecido. Curiosamente, comecei bem cedo a perceber o que significava esta Doca para a Marinha; por lá, passaram, durante muitas dezenas de anos, milhares (dezenas de milhares…) de marinheiros, de manhã, num sentido, de tarde, no outro. E foram também esses homens que davam, e deram, vida àquela Base Naval que acima evoquei.

E era da Doca da Marinha que, em ocasiões importantes, muitas vezes os navios partiam. Para África, para as Ilhas, para o Mundo; em 1965, a “Sagres”, com o nosso Curso “Miguel Corte Real” embarcado, de lá partiu para cumprimento de uma etapa decisiva na nossa formação. Com a Banda da Armada, com os nossos familiares. Num espaço nosso, da Marinha. (A mesma “Sagres”, certamente carregada de vergonha, largou a 5 de Janeiro de 2020, do terminal de cruzeiros de Santa Apolónia, para uma das mais relevantes missões que lhe foram atribuídas na sua história).

E era também na Doca da Marinha que alguns navios de Marinhas estrangeiras eram recebidos. Era uma casa da Marinha.

Um dia, alguém foi pragmático. De quem é isto, que agora está a ser menos usado? Da Marinha? Sai já. Precisam de manter o transporte dos (poucos) militares que ainda têm? Passam para um canto da Praça do Campo das Cebolas. Há ali um corredor estreito entre a Estação dos barcos do Barreiro e aquela que era a Doca deles, usem-no.

E nós, reclamámos? De certeza. Esperneámos? De certeza também. Mas seriam assuntos de natureza militar reservada, não pudemos ter conhecimento disso.

Constatamos assim que a Doca da Marinha cumpriu sempre o seu desiderato: Honrou a Pátria. Lamentavelmente, Esta não a contemplou; ao invés, ignorou-a, descartou-a, cremou-a, com as cinzas a irem para a vala comum. E tudo em nome do bem-estar da sociedade, aquele que tem tradução nas eleições definidas pelo regime.

Há no entanto que reconhecer uma certa coerência nesta decisão. A Doca da Marinha foi empurrada para um canto do Campo das Cebolas; a Marinha já foi, há muito, empurrada para um canto deste País. Basta olhar para os meios disponíveis (há quem diga que temos uma fragata operacional…); ou para os recursos humanos de que dispõe; ou, talvez, para os orçamentos de operação e manutenção.

E, por imperativo de coerência, falta agora finalizar a “obra”, identificando o espaço outrora ocupado pela Doca da Marinha com a placa toponímica correcta: Doca do Campo das Cebolas. Assim, sim, um trabalho com assinatura.

Enfim, uma Marinha preocupantemente a caminho do zero, não hidrográfico.

E, aqui, já não se trata de uma questão de coerência, mas sim de um faz-de-conta que sobrevive há muitas dezenas de anos e para cujo fim avanço uma singela sugestão, mais à frente.

Como é de todos nós sabido, as sucessivas gerações que nos governaram após 1974 (melhor dizendo: que fizeram parte desses governos) sempre afirmaram juras de amor eterno e garantias de paixão assolapada pelo mar, o nosso mar, enquanto olhavam, uns mais de soslaio, outros à descarada, para Bruxelas e Estrasburgo, ambas as cidades ligeiramente afastadas da orla marítima, fora, claramente, da linha de maior preia-mar do mar Europeu. E por esta razão métrica compreendo que nunca tivesse sido possível, a esses senhores, construírem uma visão estratégica do País assente no mar - um bem que outros consideram vital para todas as vertentes que enformam uma sociedade: entre outras, económica, política, estratégica – de afirmação no cômputo das nações.

E já que as coisas são assim, e parece que é para ficarem tal e qual, avanço então (pro bono) com uma sugestão que permitirá eliminar aquele “irritante” que acompanha os políticos (nem todos, faça-se justiça), deixando-os dormir o sono dos justos nas suas deslocações ao centro da Europa: faça-se um aterro, daqui até à costa americana!

Esta lúcida iniciativa permitirá, desde logo, fazer desaparecer o objecto do incómodo; tem ainda as vantagens acrescidas de acabar com as ultraperiferias das nossas ilhas, beneficiando em muito o orçamento geral do Estado e permitindo que alguns dos nossos irmãos ilhéus possam passar a deslocar-se, por terra, ao eldorado americano com que sempre sonharam. Como plano B, deixaria ficar o mar a sul, para permitir as férias dos governantes e o usufruto pelos ingleses; sempre ajuda o PIB.

E o Bojador? Esse, ficaria no Algarve, garantindo em pleno a nossa presença naval. Por mim, acrescentaria a esta emergente entidade oceânica a tal fragata que ainda está operacional; e nem é complicado: saíam os azuis, entravam os verdes, de bota de cano alto; retirava-se “A Pátria Honrae que a Pátria vos Contempla”, substituída “Pela Lei e Pela Grei”. E o nosso Tenente-Coronel substituía o Capitão-de-Fragata. Feito.

Seguir-se-ia a constituição de uma Task Group, a ser robustecida com os meios que parece que vão continuar a vir. Finalmente, o Reabastecedor de que a Marinha, em tempos recuados, disse que precisava, mas é claro que, neste cenário, já não faz falta nenhuma, seria aumentado ao efectivo do novo actor, permitindo-lhe assim assumir em pleno a continuação do cumprimento da tarefa começada há 700 anos pelo Almirante Manuel Pessanha, que consta terá pertencido à Marinha.

segunda-feira, maio 03, 2021

O Cross na Mata

 F.S.Lourenço

 

O ano de 64 corria prazenteiramente no universo dos mancebos, agora cadetes, do Curso Miguel Corte Real (CR). Era o ano da descoberta da percepção e experimentação de uma nova realidade, certamente ambicionada pela esmagadora maioria dos CR’s.

Esse ano, de uma década fantástica na evolução do mundo, via a música, anglo-saxónica, francófona e de além-mar, atingir patamares de qualidade e solidez que a fazem perdurar pelos tempos, até ao presente e com garantia de percorrer o futuro.

O Presidente da República, Almirante Américo Thomaz, visitava Moçambique, a “pérola” do Índico, depois de ter inaugurado uma linha de montagem de camiões na Metalúrgica Duarte Ferreira (havia metalúrgicas, havia Sorefame, havia Siderurgia Nacional; havia…).

Outro Presidente, o Marechal Craveiro Lopes, falecia, não acumulando o desgosto de ver quase desaparecer o Teatro Nacional de D. Maria II num violento incêndio de que só recuperou mais de 10 anos depois.

E a Marinha percebia que já estaria a correr a melhor década de sempre da sua brilhante existência, fase com certeza irrepetível nos tempos vindouros.

E o CR a dar os primeiros passos nessa Marinha; se não era a perfeição das condições, não se consegue imaginar outro cenário mais favorável.

Na Escola Naval, era dia de Educação Física. Programa: cross na mata, adjacente ao campo de futebol.

À ordem do Instrutor, o grupo arrancava num galope que, à data, só de pensar, aniquilava alguns CR’s. E entre estes havia um (não era o único…) que só não se safava dos pincéis se não pudesse; andava o mais possível na “cocha”, gozando com os “pobres” que cumpriam todas as “sevícias” daquele tempo. (Pena, na altura, a Escola não ter criado o Prémio de Cochice, ia haver acesa disputa para o conquistar).

Iniciado o cross, o “protagonista” desta história, estrategicamente colocado na cauda do pelotão, aproveitava a primeira curva do percurso para se “apear”, escondendo-se atrás do arvoredo conivente; confortavelmente sentado, ripava do maço de cigarros e do isqueiro e usufruía de um período lectivo “suplementar” de descanso; e quando calculava que a aula tinha terminado e o Instrutor se tinha retirado, calmamente descia do campo para o ginásio, tomava o banho e reassumia a normalidade do dia.

E foi assim, muitas vezes.

Um dia, talvez porque as músicas que entretanto ouvira (num transístor, vendido pelo Zé Narso, nessa altura ainda com “miolo”), durante esse “descanso”, o tivessem distraído (era a Sylvie Vartan, era o Tom Jones, era o Frank Sinatra, eram muitos outros), o nosso CR resolveu, lá de cima, junto ao campo, perguntar a um dos que saíam do ginásio (a uns metros largos de distância): “Oh F…, o Martin já saiu?”

O “perguntador” ouve, então, a cerca de 2 metros de si, a resposta:

“Estou aqui, sr. Cadete, quer falar comigo?”

Passada aquela fase em que o uso de fralda teria dado muito jeito, o nosso herói começou logo a pensar no que iria dizer ao Comandante da Companhia, o saudoso Abel. Mas só saíram “desculpas de grumete”, que não aqueceram nem arrefeceram.

E nos 2 fins de semana que se seguiram, o transístor não teve descanso; safou-se a música e o rancho melhorado.

E as interrupções dos crosses tiveram assim um fim prematuro.

 


Este texto é dedicado, com admiração, respeito e afecto, ao Comandante José Martins e Silva, num singelo preito de homenagem, pelo Homem que foi e pelo Marinheiro que mostrou ser.

domingo, maio 02, 2021

Comandante Martins e Silva

 

J.R.Leite

Foi com enorme pesar que tive conhecimento do falecimento do Comandante Martins e Silva no passado 30 de Abril.

Quando o Curso Corte Real entrou para a Escola Naval ele era o instrutor de Educação Física e, logo nessa altura conquistou, pela sua maneira de ser e extrema correcção nos contactos pessoais, a simpatia e enorme admiração da generalidade dos cadetes, o que viria a prolongar-se, já como oficiais, ao longo dos anos.

Posteriormente tive o enorme privilégio de, por duas ocasiões distintas, ter vindo a trabalhar sob as suas ordens, na primeira quando ele era o Imediato e na segunda já como Comandante do Navio-Escola Sagres, cumprindo missões de mar muito prolongadas e com milhares de horas de navegação, ao longo das quais tive a oportunidade de o conhecer bem e cimentar um excelente relacionamento.

Não posso esquecer o maior desgosto da minha vida na Marinha, quando, no final da segunda comissão, uma inoportuna promoção a Capitão-Tenente me obrigou a deixar o navio, não participando na primeira volta ao mundo realizada pela Sagres sob o seu Comando.

Marinheiro de corpo inteiro, era grato presenciar a forma afectuosa como era saudado pela guarnição e como correspondia com gestos e palavras amigas.

Mais tarde vim a desempenhar funções semelhantes, ficando extremamente grato por tudo o que com ele aprendi, não só de Marinharia, Segurança e Manobra do navio, mas também no âmbito do protocolo, sempre muito presente nas missões da Barca, onde era um orgulho acompanhar o Comandante Martins e Silva.

Dele recordo, para além do excelente relacionamento pessoal, a verticalidade de carácter e o desassombro no assumir de decisões.

Em nome do Curso Corte Real manifesto o nosso profundo pesar e os nossos sentimentos a sua mulher e filhos.

sábado, maio 01, 2021

Aniversários de elementos do CR: Maio de 2021

 

Neste mês de Maio de 2021 completam mais um ano os seguintes elementos do CR, a quem enviamos um abraço de parabéns:

12MAI(1946) TITO JOÃO ABRANTES SERRAS SIMÕES

22MAI(1943) ANTÓNIO FERNANDO VASCONCELOS DA CUNHA

24MAI(1944) JOSÉ MATIAS CORTES

25MAI(1944) JOAO ANTÓNIO LOPES DA SILVA LEITE

26MAI(1945) JOSÉ LUÍS PEREIRA DE ALMEIDA VIEGAS

30MAI(1946) JOSÉ LUÍS RODRIGUES PORTERO

Recordamos também neste mês de Maio, na data do seu nascimento:
 
em 05MAI (1944), o JOSÉ PIRES SARGENTO CORREIA, e em 10MAI (1944) o CARLOS AMANTE CRUJEIRA que "partiram" à nossa frente.