Novembro, dia 1. Dia de Todos os Santos, traz inevitavelmente à memória o terrível sismo que arrasou Lisboa em 1755, faz hoje 269 anos. E hoje também faz anos que foi inaugurado o Hospital da Marinha, em 1806, que culminou longos esforços no sentido de melhorar o apoio da Marinha no que diz respeito à saúde, que podemos considerar ter tido início em 1756, com a criação do primeiro corpo permanente de Cirurgiões da Armada. Melo e Castro e seu sucessor na Secretaria do Estado dos Negócios da Marinha e do Ultramar, Sousa Coutinho, conduziram a reorganização da Marinha durante os reinados de D. José I, D. Maria I e D. João VI (ainda como regente), esforço a que não foi alheia a saúde, e que levou à assinatura de um Alvará Real, a 27 de Setembro de 1797, onde D. João mandou constituir um empréstimo destinado a construir um hospital. Após diversas vicissitudes, o Hospital Real da Marinha foi inaugurado em 1 de Novembro de 1806. Era um edifício digno de nota, moderno e inovador, projectado pelo arquitecto Xavier Fabri, construído no Campo de Santa Clara, onde o conhecemos.
Tempos difíceis, em plena Quarta Coligação contra a França de Napoleão, que terminou com este a dominar uma enorme parcela da Europa. As famosas batalhas de Trafalgar e Austerlitz tinham ocorrido um ano antes. Portugal tinha obtido o estatuto de neutralidade, negociado com a França em 1804, e Junot, que tinha sido embaixador em Lisboa em 1805, viria a invadir Portugal em 1807 e a família real retirar-se-ia para o Brasil em Novembro desse ano. Não é difícil imaginar o esforço que foi necessário mobilizar para a construção do Hospital, nem a determinação que teve de existir para o inaugurar e sobretudo para o por a funcionar e o manter de forma sustentada.
Apesar das dificuldades o Hospital da Marinha permaneceu em Santa Clara até finais de 2012, quando foi extinto, em virtude da reforma do sistema de saúde militar, tendo entregue as suas responsabilidades ao Hospital das Forças Armadas. Ao longo de mais de dois séculos, o Hospital da Marinha, embora com períodos menos dinâmicos, foi pioneiro, acompanhou uma significativa evolução da Medicina, inovou, expandiu-se para novas áreas de actividade, investigou. Viu um número enorme de partidas e chegadas de navios em muitas missões e assistiu a um sem número de gerações de marinheiros. É parte indelével da História, da Marinha e de Portugal, não apenas por ter existido, mas por nela ter activamente participado, forjando-a, brandindo conhecimento, iniciativa, perseverança, visão, disponibilidade, inovação. Se não tivesse existido, hoje, a Marinha seria diferente. E o Corte Real teria sido um curso diferente.
Que descanse em paz, aquela de quem cumpriu o dever, sem a ninguém algo ficar a dever.
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O edifício foi vendido por cerca de 18 milhões de euros, em 2019. No mês passado vieram a público notícias de que uma parte dele foi convertida em mais de 30 modernos apartamentos, incluídos num condomínio privado, que darão "uma nova vida" ao Campo de Santa Clara. O projecto é referido como "diferenciador e irreverente, exuberante e vanguardista". Ainda bem. Esperemos que essas qualidades não ofusquem o passado.
Em Novembro celebrarão o aniversário os seguintes camaradas, a quem endereçamos um abraço de parabéns:
12NOV (1944) Jorge Augusto Pires
14NOV (1945) Arménio Carvalho Carlos Fidalgo
27NOV (1945) Álvaro Amado Bordalo Ventura
Lembramos igualmente o Correia Graça, falecido em 5Nov2010, o Ferreira Neto, falecido em 14Nov2014 e o Rodrigues Maurício, nascido em 29Nov1943 e falecido a 21Nov1994.