Após o afundamento do navio "Corte Real", em 12 de Outubro de 1941, a reacção anti-nazi
na opinião pública portuguesa foi de tal maneira forte que no seio
do próprio Estado Novo surgiu uma troca de acusações entre o Ministério da
Marinha e a Censura na dependência do Ministério do Interior.
O Chefe do Estado Maior Naval
insurgiu-se contra a censura à comunicação social da época. Na sua opinião,
tinha deixado passar para o público sensacionalismos
e faltas de verdade sobre o afundamento do Corte Real.
Na opinião do referido oficial, as
graves falhas da censura poderiam levar os portugueses a pensamentos
subversivos e perigosos sobre a própria ideologia e conduta do Estado Novo
naquela guerra. Continuou, dizendo que a maior parte das notícias publicadas
não tinham fundamento, e outras, embora verdadeiras não eram nada convenientes
para o país que causou o desastre marítimo. O oficial nunca nomeou a Alemanha
embora soubesse bem de que potência se tratava.
Também lembrou que o país em causa
poderia negar algumas reclamações pedidas pelo Estado Português devido àquelas
notícias.
A resposta foi dada pelo próprio
director da Censura, tenente-coronel Álvaro Salvação Barreto. Começou por
afirmar que precisamente sobre os casos
de torpedeamento de barcos portugueses nunca houve dúvidas. São sempre de
suspender e consultar, isto é, procuram-se as instruções particulares para o
caso especial.
Na continuação da sua resposta ao oficial da Marinha, Salvação
Barreto afirmou que a imprensa até tinha sido muito comedida na cobertura feita
ao evento, destacando o jornal O Século com a reportagem mais
desenvolvida; os restantes pouco falaram, tendo sido até necessário os seus
serviços a incentivá-los para referir o torpedeamento. Esta atitude revelava
bem os cuidados e atenção que a Censura tinha com a comunicação social para
tratar de assuntos com aquela responsabilidade.
Álvaro Salvação Barreto mostrava e
justificava desta maneira que o controle dos seus serviços era completo e
eficaz, dando como exemplo o atraso de 2 dias entre o torpedeamento e a sua
publicação, como mais um sinal de que a censura tinha levado o seu tempo a
avaliar a notícia e só depois a publicou.
NR: O autor do presente trabalho (de Novembro de 2014), Licínio Ferreira Amador, baseou-se no do mestre em História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Ricardo Daniel Carvalho da Silva.
O referido docente fez uma comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 21 de Outubro de 2011 subordinada ao título “Navios Portugueses afundados durante a II Guerra Mundial. As perdas de um Neutral”, de onde foram extraídos o tema deste trabalho e o excerto em itálico.
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