quinta-feira, outubro 18, 2018

CR's em actividade: FSLourenço nos Anais do CMN (3 de 5)

Ao fim da manhã do dia seguinte segui, em avião dos M.Y.P. e acompanhado dos dois elementos daquela Organização, para Mzuzu, uma cidade no norte do país, próxima do local previsto para a Base: Nkhata Bay, localidade praticamente no paralelo do limite NW de Moçambique.
Chegados a meio da tarde, instalámo-nos num pequeno hotel e partimos para a primeira visita aos locais seleccionados, próximos um do outro, ambos a sul de Nkhata Bay.
À nossa espera, encontrava-se a “John Chilembwe”, uma das duas lanchas malawianas, comandada pelo 1º tenente da R. L.20 Fernando Santiago Ponce Dentinho21.
Ultrapassada a estupefacção e enorme surpresa deste Camarada (na verdadeira acepção da palavra – já maduro na idade, solidário, disponível, bom carácter), que desconhecia em absoluto o assunto, o grupo, a que se juntaram dois oficiais israelitas (T.Cor. Imba e T. Cor. Ramot) – facto de que não fui previamente informado –, seguiu para visita aos locais propostos para a Base, distando cerca de 1,5 mi. de Nkhata Bay.
Após uma rápida passagem, observadas as características das margens, a orografia da zona, identificados os ventos dominantes e, principalmente, aconselhado e apoiado pelo Comandante Dentinho, profundo conhecedor daquela margem do Lago, realidade com que eu me confrontava pela primeira vez, os malawianos quiseram desde logo saber a minha opinião sobre qual o local mais ajustado para implantação da Base.
Como atrás referido, os locais eram muito próximos, mesmo adjacentes; as diferenças entre ambos tinham principalmente a ver com o espaço disponível para instalar a Base, com todos os requisitos identificados e aceites, a protecção contra os ventos dominantes (de sul e noroeste) e a segurança militar das futuras instalações.
Ponderados, com a celeridade adequada à rapidez exigida pelos anfitriões e muito respaldado no senso e experiência do Comandante Dentinho, propus então o local mais a sul, de maior amplitude e também solução mais dispendiosa, mas a única a poder garantir os padrões de operacionalidade e segurança equivalentes aos seguidos na nossa Marinha; esta opção teve, desde logo, forte oposição dos israelitas (que, conhecendo muito bem o processo, valorizaram, certamente, mais os aspectos financeiros do empreendimento, talvez pela dimensão do suporte que se teriam comprometido a assumir.


20 Reserva Legionária.

21 A “John Chilembwe” foi uma das duas LFP’s cedidas ao Malawi pelo Governo Português, no âmbito da estratégia de defesa das águas do Lago Niassa; esta, era originariamente a LFP “Castor”(P 580) e foi cedida em 5AGO1968; a outra, a “Chibisa”, ex-“Regulus”(P 369), à época comandada pelo s/ten. RN Marques da Silva, passou ao Malawi em 21MAR1970. A “Castor”, construída nos Estaleiros Navais do Mondego, pertencia à classe “Júpiter”, deslocando 22/28 tons., comprimento 17,7m, potência 2x335 BHP, velocidade 12,7 nós; a “Regulus”, da classe “Antares”, construída pelo Estaleiro Navalis, deslocava 18/25 tons., comprimento 17 m, potência 2x276 BHP e velocidade 16 nós. Ambas tinham uma guarnição de 7 homens – Comandante, fogueiro e comunicativo, portugueses; os restantes, dos M.Y.P. – e igual armamento: uma Oerlikon 20mm. A.A. e duas MG 42, de 7,62mm.

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