Ao fim da manhã do
dia seguinte segui, em avião dos M.Y.P. e acompanhado dos dois elementos
daquela Organização, para Mzuzu, uma cidade no norte do país, próxima do local
previsto para a Base: Nkhata Bay, localidade praticamente no paralelo do limite
NW de Moçambique.
Chegados a meio da tarde,
instalámo-nos num pequeno hotel e partimos para a primeira visita aos locais
seleccionados, próximos um do outro, ambos a sul de Nkhata Bay.
À nossa espera, encontrava-se a “John
Chilembwe”, uma das duas lanchas malawianas, comandada pelo 1º tenente da
R. L.20 Fernando Santiago Ponce Dentinho21.
Ultrapassada a estupefacção e enorme
surpresa deste Camarada (na verdadeira acepção da palavra – já maduro na idade,
solidário, disponível, bom carácter), que desconhecia em absoluto o assunto, o
grupo, a que se juntaram dois oficiais israelitas (T.Cor. Imba e T. Cor. Ramot)
– facto de que não fui previamente informado –, seguiu para visita aos locais
propostos para a Base, distando cerca de 1,5 mi. de Nkhata Bay.
Após uma rápida passagem, observadas
as características das margens, a orografia da zona, identificados os ventos
dominantes e, principalmente, aconselhado e apoiado pelo Comandante Dentinho,
profundo conhecedor daquela margem do Lago, realidade com que eu me confrontava
pela primeira vez, os malawianos quiseram desde logo saber a minha opinião
sobre qual o local mais ajustado para implantação da Base.
Como atrás referido, os locais eram
muito próximos, mesmo adjacentes; as diferenças entre ambos tinham
principalmente a ver com o espaço disponível para instalar a Base, com todos os
requisitos identificados e aceites, a protecção contra os ventos dominantes (de
sul e noroeste) e a segurança militar das futuras instalações.
Ponderados, com a celeridade adequada
à rapidez exigida pelos anfitriões e muito respaldado no senso e
experiência do Comandante Dentinho, propus então o local mais a sul, de maior
amplitude e também solução mais dispendiosa, mas a única a poder garantir os
padrões de operacionalidade e segurança equivalentes aos seguidos na nossa
Marinha; esta opção teve, desde logo, forte oposição dos israelitas (que, conhecendo
muito bem o processo, valorizaram, certamente, mais os aspectos financeiros do
empreendimento, talvez pela dimensão do suporte que se teriam comprometido a
assumir.
20 Reserva
Legionária.
21 A “John Chilembwe” foi uma
das duas LFP’s cedidas ao Malawi pelo Governo Português, no âmbito da
estratégia de defesa das águas do Lago Niassa; esta, era originariamente a LFP
“Castor”(P 580) e foi cedida em 5AGO1968; a outra, a “Chibisa”,
ex-“Regulus”(P 369), à época comandada pelo s/ten. RN Marques da Silva, passou
ao Malawi em 21MAR1970. A “Castor”, construída nos Estaleiros Navais do Mondego,
pertencia à classe “Júpiter”, deslocando 22/28 tons., comprimento 17,7m,
potência 2x335 BHP, velocidade 12,7 nós; a “Regulus”, da classe “Antares”,
construída pelo Estaleiro Navalis, deslocava 18/25 tons., comprimento 17 m,
potência 2x276 BHP e velocidade 16 nós. Ambas tinham uma guarnição de 7 homens
– Comandante, fogueiro e comunicativo, portugueses; os restantes, dos
M.Y.P. – e igual armamento: uma Oerlikon 20mm. A.A. e duas MG 42, de 7,62mm.
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