PREFÁCIO
(Do
Anuário da Escola Naval, 1963/1964, elaborado pelo Director e 1º Comandante,
Comodoro António Morgado Belo)
“O presente Anuário
destina-se a esclarecer a Armada sobre as principais actividades do seu
primeiro estabelecimento de ensino superior – a Escola Naval – através do lapso
de tempo decorrido entre 1 de Setembro de 1963 e 31 de Agosto de 1964.
Na verdade, durante
todo esse período em que tive o alto privilégio de presidir aos destinos da «Alma
Mater» da Corporação dos Oficiais da Armada, foi possível assistir ao crescimento verdadeiramente explosivo da
Companhia de Alunos da Escola Naval que, com um curso de cadetes da Reserva
Naval, veio a atingir a elevada cifra jamais antevista de 315 alunos.
Não será, pois, de
estranhar que durante todo este ano a luta sem fim travada nesta autêntica
batalha contra o tempo – que é a da formação dos futuros oficiais da nossa
Marinha – tenha assumido aspectos delicados e de alta responsabilidade,
exigindo simultaneamente grandes esforços, boa vontade e uma aturada e
constante vigilância.
Com efeito, se nunca
perdermos de vista que a preparação do oficial exige sempre a concorrência de
três elementos fundamentais – moral, cultural e
técnico-profissional – dos quais o primeiro,
que inclui a formação do carácter militar, representa
o objectivo mais alto a atingir nesta Escola – verdadeiro espelho da nossa
Corporação – há que reconhecer a delicadeza e a imensa dificuldade da nossa
tarefa.
Esse objectivo só pode
ser alcançado mercê de um forte prestígio da Escola e este, por sua vez, é
função do prestígio e da dignidade do seu Corpo Docente e ainda de uma orgânica
viva e actual que permita equacionar
satisfatoriamente as exigências
decorrentes das funções do Oficial da Armada com as do fraco teor de que actualmente enferma a generalidade dos
candidatos à profissão do mar.
Tal sentimento de
responsabilidade, aliado à noção do dever, é ainda acrescido pelo facto de
termos bem presentes as sábias palavras proferidas pelo nosso saudoso amigo e
ilustre Professor desta Escola Almirante Alfredo Botelho de Sousa, quando, em
1945, como Major General da Armada, definiu por forma luminosa a nossa Missão:
«A missão da Escola Naval é moldar o material humano recebido e dotá-lo de um
fundamento educativo sobre o qual a experiência do mar possa acabar a obra da
formação do oficial; enviar para o mar moços treinados nos métodos científicos
e na utilização dos livros, com a indispensável base técnica para poderem
tornar-se peritos nos vários ramos do saber profissional, com ideias precisas
sobre a responsabilidade pessoal e, finalmente, com um conhecimento geral das
tradições e das leis do serviço que se não encontram escritas, em matéria de honra e de conduta pessoal».
À ilustre comissão…a
elaboração deste anuário…meu mais reconhecido apreço ”
NOTA: Sublinhados
nossos
(Colaboração do FSLourenço)
1 comentário:
Recordo-me que o discurso do Comodoro Morgado Belo impressionou e marcou muitos de nós, entre eles, eu. Ficou-me, especialmente, o alerta que ele logo nos deu:se o vosso objectivo é ganhar dinheiro, estão no sítio errado;a vossa escolha tem muito de sacerdócio...E na parte do prefácio onde estabelece que o elemento fundamental é o moral, que inclui a formação do carácter militar, eu revejo a preocupação e o discurso desse nosso primeiro Chefe.
Mas gostava de ser apoiado, ou contraditado, neste "feeling".
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