segunda-feira, junho 08, 2020

Memórias com rãs


Este episódio verídico que vos vou contar, ocorreu no Séc. XX, tendo-me sido relatado por um dos intervenientes na história e foi para mim mais divertido do que para o personagem principal envolvido na mesma durante a viagem que vou relatar:
O Alm. AS estava fisgado em fazer uma cultura de coxas de rã num lago do jardim da sua casa em Lisboa e para isso necessitava de uns exemplares reprodutores que sabia existirem nos EUA.  Seriam os melhores no mercado internacional. Tendo tido conhecimento de deslocações frequentes do Alm CD àquele País, pediu-lhe se numa dessas vezes lhe trazia duas rãs reprodutoras provenientes dum produtor qualificado.
Parecendo-lhe um assunto simples, acedeu de imediato e após as diligências que o levaram ao outro lado do Atlântico deu início à preparação do seu regresso a Portugal por via aérea. Na véspera recolheu uma caixa com as ditas rãs, muito bem apresentada, e no dia da partida, juntou-a á sua bagagem pessoal. Após efectuado o check-in e já só com a bagagem de mão onde se incluía a dita caixa surge o 1º problema: A funcionária do controle, fardada e corpulenta,  exige-lhe a passagem pelo pórtico do Raio X com a caixa das rãs na mão, o que ele recusa por receio de que as radiações provocassem algum efeito nocivo sobre a sexualidade dos ditos batráquios. Situação que por ser inédita naquele aeroporto não só originou muitas conversações e a vários níveis, como o dispêndio de bastante tempo. Aceite finalmente a argumentação e que o transporte dos referidos animais não punha em causa a segurança, verificou-se então e finalmente o embarque, já com o pensamento no sono reparador que as horas de voo até Lisboa lhe iriam proporcionar. Já devidamente sentado apercebeu-se que junto das rãs vinha um conta-gotas e um aviso de que a bordo havia o risco da pele dos referidos animais não poder perder um certo nível de  humidade que, baixando, poria em risco as respectivas vidas; em conclusão, a falta de uns pingos de água de 30 a 30 minutos sobre as suas peles durante toda a viagem, poria em risco a sobrevivência dos pequenos animais. Lá se ía então por terra, o tão desejado e reparador sono!
Por sorte, a vizinha do lado, anglo-saxónica mas comunicativa e simpática (com antepassados lusos que certamente lhe deram enfase a essas qualidades), achou graça á situação e foi desenvolvendo conversa, ajudando até nalguns períodos a manter a necessária humidade dos batráquios-reprodutores, situação que se arrastou até à aterragem em Lisboa.
A entrega dos referidos reprodutores verificou-se, mas já não acompanhámos os passos seguintes do desenvolvimento do negócio, penso que de sucesso duvidoso no nosso País: O da comercialização para fins gastronómicos das coxas de rãs.
11MAI2020 JPVB

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