sexta-feira, agosto 30, 2024

Hoje, 30 de Agosto, faço 18 anos!!!

O tempo passa muito depressa. De repente, ontem, um amigo, talvez de sempre, alertou-me: acabáramos de jantar, e saboreávamos, recostados e descontraídos, um copito de aguardente velha; "Olha lá, fazes anos amanhã, não é?". Passado o espanto inicial, caí em mim, reflecti uns momentos, e ouvi "Então? Já nem sabes quando nasceste?".

Fiquei um pouco atarantado perante a amigável censura, mas não dei parte de fraco. Claro que sabia, só estava espantado com aquela lembrança amiga, provavelmente muito invulgar. Não, não era assim tão ignorante, antes pelo contrário, estava apenas a calcular a quantos segundos correspondem os anos que hoje faço, e de cabeça. Passei ao ataque: "Sabes quantos segundos, nem que seja aproximadamente, são dezoito anos?". 

Após uma hesitação, muito breve, pareceu-me, recuperou: "Sei lá, se calhar mais do que 550 milhões!". Ri-me, teria aceite qualquer resposta naquela linha, mesmo "mais do que cinco segundos". E expliquei-lhe. Este ano passou a correr, até parece que mais veloz do que os anos que o precederam, e, se calhar, os que vêm aí ainda serão mais velozes. Tive apenas umas 32 mil visitas, e desde o meu nascimento, um pouco mais do que 369 mil. "É o que é", respondeu-me, "nem bom nem mau, antes pelo contrário. Os tempos não estão propícios para estas actividades, muito embora não o pareça". 

Continuei:  O meu nascimento, há 18 anos, deve-se a alguém que já não está entre nós, o Villas-Boas, e nestas datas de Agosto a sua lembrança torna-se mais pesada e a saudade mais concreta, por isso aspiro a um tempo mais vagaroso; um disparate. "Compreendo", disse ele, e calou-se olhando para o cálice com os olhos semicerrados, como se procurasse as palavras mais animadoras do mundo. E acrescentou "As águas passadas não movem moinhos, sabes, e ele também o sabe - ou sabia. E se nos pudesse falar agora concordaria comigo: os próximos anos é que interessam".

Calámo-nos durante uns momentos, envoltos nos próprios pensamentos. É talvez fácil, para ti - continuei - que tens para aí umas dez vezes mais visitas, cem vezes mais escritos, e comentários a dar com um pau todos os anos! 

Com os olhos bem abertos e fixos em mim, respondeu: "Olha que não, olha que não", disse, arrastadamente. "Não nego que é um pouco mais, mas não chega a duas vezes os teus números, e o que mais me preocupa é que diminuem mês a mês. Já tentámos alguns truques, por exemplo usar uma linguagem inclusiva, abordar temas fracturantes, revelar segredos de polichinelo, publicar mentirazinhas inocentes e mesmo aceitar frases de rabo na boca, isto é, que não levam a lado nenhum. Mas tudo sem grande resultado; dizem os nossos especialistas que tudo o que passe 256 caracteres já não é lido, e uma folha A4 é lida em diagonal, se não mesmo totalmente desprezada. E isto, claro, sem esquecer a dificuldade de compreender efectivamente o conteúdo...E - ah! já me esquecia - para escrever é necessário um esforço sobre-humano, tudo dá muito trabalho, ninguém sabe escrever ou não tem jeito, alguns sentem-se velhos ou consideram-se infoexcluídos, não lhes compete, muitos simplesmente não estão para isso ou escusam-se por não partilharem uma historieta, um episódio simples, uma invenção, maluca que seja, um simples comentário. Eu nem peço muito, apenas respeito, verdade e educação.Tudo serve como desculpa, e não deixo de lhes dar alguma razão, aqui entre nós, que ninguém nos ouve. Aconselham-me, eles, os especialistas, a recorrer à inteligência artificial. Pois é, meu caro! Qualquer dia tenho de os despedir e arranjar a tal inteligência: a natural está obsoleta ou já não chega".

A mesa à nossa frente tinha sido limpa, alguém chegou-se a nós e perguntou se queríamos mais alguma coisa, sinal evidente de que se estava a fazer tarde. O desabafo deixara-me sem possibilidade de resposta, eliminou a capacidade de aconselhar. Calei-me, aqueles eram problemas bem mais complicados que os meus. Desviei a conversa e perguntei se estaria de acordo em partilhar a despesa.

Pedimos a conta, ergui o meu cálice ainda com um resto por beber e desejei-lhe que pudesse ultrapassar as dificuldades. Imitou o gesto, os cálices encontraram-se suavemente numa saudação mútua.

Saímos, a noite estava fresca em surpreendente contraste com o dia, que estivera de ananases. "Vais para casa?", perguntou-me. Não, respondi, vou publicar este texto.

Um abraço de despedida, vê-mo-nos no futuro, daqui a um ano.


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