sábado, agosto 21, 2010

Viagem no NE "SAGRES", de 21 a 25 de Agosto de 1965

Dias 21 a 25 de Agosto de 1965, sábado a quarta-feira

Este período constitui, para mim, um assinalável mistério, quiçá impossível de algum dia vir a ser esclarecido. E porquê, perguntam os meus (2, o VB e o SP) leitores? Tão simplesmente porque, ao contrário da imagem que retive desse tempo e das notas que tirei, devemos ter sido vítimas de um violento temporal, talvez mesmo um ciclone, visto que, consultando o Diário Náutico desses dias tormentosos, não há praticamente nenhum quarto que não tenha registada a quebra de inúmera louça (e penso que também uns guardanapos, tal era o sudoeste); a propósito, deixo aqui um enigma, apelando à vossa argúcia.

Primeiro, transcrevo o “Aditamento ao quarto das 20h00m às 24h00m”:

“Ao transitar nos exteriores do navio, devido ao balanço, escorregou, tendo deixado cair ao mar, sem culpabilidade, o seguinte material que transportava, a praça seguinte: …./2º N….:

a) Da 1ª Câmara:

Colheres para doce…..2(duas)

Colheres para chá……..1(uma)

b) Da 2ª Câmara:

Colheres para sopa……3(três)

Colheres para café…….3(três)

Garfos para mesa………3(três)”

Então a proposta é a de que tentem descobrir duas coisas: primeira, o que é que o 2º N andava a fazer nos exteriores, com aquela palamenta, àquelas horas nocturnas, com aquele temporal? A segunda, onde é que estarão, hoje, aquelas 9 colheres e os 3 garfinhos? Quem acertar, recebe uma série de 15 sessões de Fisioterapia no HM, perdão, no pólo hospitalar da Feira da Ladra (oferta válida só até 31DEC, depois têm que ir à Estrela ou ao Lumiar).

Voltando ao apoio das notas que retive, esta tirada final decorreu com vento sempre ENE/NNE, com a rotina dos quartos, ao leme, aos abastecimentos, aos serviços gerais, à máquina, às comunicações, aos mastros, acho que este aspecto da formação foi conseguido. Também durante este período apitou a saltar na embarcação, mais do que uma vez por dia, o que ajudava a passar o tempo.

No dia 22, o tempo piorou, o vento aumentou, alguns enjoaram, entre eles (quem diria) um futuro comandante que, pela minha contabilidade, foi ao balde duas vezes…

Fizemos os últimos exames (de Comunicações, bandeiras e morse), entretanto o tempo, no dia 23, melhorou. Deixou de haver água fechada, estávamos com algum atraso em relação à estima; recuperámos, no entanto, no dia seguinte, onde atingimos velocidades de 10/11 nós.

Vimos, finalmente, terra no dia 25: as Berlengas e os Farilhões; à noite passámos a navegar apenas com o motor, ainda havia dúvidas sobre o ETA. Também soubemos que o Vitória de Setúbal tinha perdido na Dinamarca, com o Aharus, por 2-1, para a Taça das Cidades com Feira (competição de nível imediatamente superior ao de uma outra, ganha uma vez – ainda por cima com um lance de bola parada - por uma equipa portuguesa esverdeada, mas que por ter baixa qualidade foi rapidamente extinta).

Colaboração do FSLourenço


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3 comentários:

s.pinho disse...

Como sou bem mandado. Pergunto: PORQUÊ ?
E a resposta é simples e de todos conhecida. Fosse lá o que fosse que tivesse acontecido ao material havia que acertar inventários.... digo eu.Quando fui director da DAR, recebi centenas/milhares de Ordens de Despesa Extraordinária, destinadas a abater material, gasto ou desaparecido sem dolo, devidamente sancionadas pelos mais altos responsáveis das Unidades.

Fernando Santos Lourenço disse...

Augusto, o teu comentário é de Almirante na efectividade do serviço; estava à espera mais de uma "apreciação" de um "velho" reservista, que abordasse os "caminhos paralelos" de muito deste material...

Carlos V. Carrasco disse...

Admiro-me de só haver garfos e colheres desaparecidos, com tanta variedade de material a bordo.
Pela minha parte tenho uma faca, mas foi abatida na viagem seguinte...
Saudações deste leitor assíduo.