Um bom contributo para a história de um navio em que fizemos uma viagem de instrução de 4 meses:
Texto do nosso camarada mais jovem Comte Nuno Sardinha Monteiro*
Neste ano de 2012 é um ano de celebração para
o navio escola “Sagres”. De facto, cumpre-se este ano o 75.º aniversário do seu
lançamento à água, na cidade de Hamburgo, numa Alemanha sob regime nazi. Neste
artigo, conta-se de forma breve a história do navio, que viria a içar a
bandeira portuguesa, pela primeira vez, em 1962. Isso significa que este ano
também se celebra o cinquentenário do navio ao serviço de Portugal e da Marinha
Portuguesa, uma efeméride tão mais significativa quanto se trata do primeiro
navio com tão prolongada longevidade na briosa.
O atual navio escola “Sagres” foi
construído nos estaleiros da Blohm &
Voss, em Hamburgo, tendo o seu casco sido lançado à água em 30 de outubro
de 1937. O navio, então batizado com o nome “Albert Leo Schlageter”, foi o
terceiro de uma série de quatro navios escola à vela, construídos para dar
instrução aos cadetes da Kriegsmarine (Marinha
de Guerra). O primeiro chamava-se “Gorch Fock”, o segundo “Horst Wessel” e o
último (que nunca chegou a ser acabado e foi afundado em 1947) “Herbert Norkus”.
Os navios possuíam armação em barca, caraterizada pela existência de três
mastros, com os dois mastros de vante (traquete e grande) a envergarem pano
redondo e o mastro de ré (mezena) a armar pano latino.
Sob bandeira alemã, o “Albert Leo
Schlageter” foi um navio azarado. Na
primeira viagem, em 22 de março de 1938, colidiu com um navio mercante, sob
cerrado nevoeiro, em pleno Canal da Mancha, sofrendo danos significativos que
obrigaram a prolongadas reparações em estaleiro. Mais tarde, quando efetuava
uma viagem de instrução de cadetes, em 4 de novembro de 1944, embateu numa mina
no mar Báltico, abrindo um enorme rombo no casco. O navio esteve próximo de
afundar, apenas tendo aguentado à superfície devido à sua compartimentação
estanque e ao facto de navegar na companhia do “Horst Wessel”, que aguentou o “Albert
Leo Schlageter” até à chegada de um
rebocador. Mesmo assim, morreram neste trágico acidente 18 militares da
guarnição.
No final da II Guerra Mundial, os quatro
navios escola à vela foram sorteados pelas potências aliadas. O “Albert Leo
Schlageter”, bem como o “Horst Wessel”, couberam aos EUA, que decidiram
entregar o segundo à sua Guarda Costeira, para servir como navio escola, sob o
nome “Eagle” (ver tabela). Quanto ao
“Albert Leo Schlageter”, foi cedido
ao Brasil por um preço simbólico (5000 dólares), como compensação pelas perdas
sofridas pela navegação mercante brasileira, vítima dos ataques dos célebres Unterseeboots (ou U-Boats) alemães. Curiosamente, foi no dia 4 de julho de 1948, dia
nacional dos EUA, que o navio, ainda atracado na Alemanha, içou pela primeira
vez a bandeira brasileira, tendo mais tarde sido rebatizado como “Guanabara”
aquando do aumento ao efetivo da Marinha do Brasil.
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