O curso que frequentou
a Escola Naval no período de 1963/67, e que teve como patrono o navegador
Miguel Corte Real, conhecido na gíria naval apenas pelas iniciais “CR”, comemorou nos fins do ano de
2013, os seus cinquenta anos de entrada na Marinha. As comemorações em apreço incluiram, entre
outros eventos, um fim-de-semana em Tavira, a cidade-berço da família Corte
Real, constatando-se então que ali não existia ainda nenhuma referência à
“Pedra de Dighton”.
Como se sabe, Miguel
Corte Real explorou a costa nordeste dos Estados Unidos e do Canadá, em 1502,
procurando o seu irmão Gaspar, que não havia regressado de uma expedição realizada no ano anterior. Contudo,
Miguel Corte Real também não regressou
da sua viagem, perdendo-se-lhe então o rasto. No entanto, em 1918, o Prof.
Edmund Delabarre, da Brown University, de Providence, Rhode Island, estudou uma
pedra de grandes dimensões mergulhada no leito do rio Taunton, perto da foz,
nas imediações da cidade de Fall River, no Estado de Massachussetts. Tratava-se
de um arenito avermelhado com numerosas inscrições e entre estas conseguiu
identificar “Miguel Corte Real Y Dei hic Dux ind” e a data “1511”. Este
Professor americano construiu então a hipótese de que o navegador português
teria naufragado nas proximidades daquele local, e que teria sido recolhido pelos indios.
Entretanto, a “Pedra de Dighton”, graças aos esforços do médico Dr. Luciano da
Silva - personalidade muito activa na comunidade portuguesa da Nova Inglaterra,
já falecido - está hoje preservada num
museu local, tendo sido entretanto executadas diversas réplicas, uma das quais
se encontra colocada na esplanada fronteira ao Museu de Marinha, em Belém, e
outra em Vale de Cambra, junto da sede da “Associação Dr. Manuel Luciano da
Silva”.
Nestas circunstâncias,
o Curso CR tomou a iniciativa de
promover a oferta de uma réplica da “Pedra de Dighton” à cidade de Tavira. A réplica foi manufaturada num estaleiro naval em Bristol, Rhode Island, com
o apoio da Casa dos Açores da Nova Inglaterra, a intermediação solidária do Sr.
João Medeiros de Sousa e orientação técnica do Sr. Eduardo Medeiros, assim como com o trabalho gratuito de um grupo
de trabalhadores açoreanos e luso-descendentes. O transporte para Portugal foi
oferecido pela firma MSC–Mediterranean Shipping Company, que se disponibilizou
para a transportar gratuitamente num dos seus navios, e da firma Segurama, que
ofereceu o seguro.
A inauguração do
monumento com a réplica teve lugar no dia 28 de Junho às 12h00, em cerimónia
pública presididida pelo Presidente da Camara Municipal de Tavira, Dr. Jorge
Botelho, tendo sido colocada em zona nobre da cidade, junto da margem esquerda
do rio Gilão, cerca de 250 m a montante da ponte romana. Na altura foi lido o
“Termo de Entrega” da réplica, assinado meia hora antes na Camara Municipal,
foi feita a evocação de Miguel Corte Real pelo Prof. Dr. Ferreira Coelho,
Presidente da Comissão de Estudos Corte Real da Sociedade de Geografia de
Lisboa e o Presidente da Casa dos Açores do Algarve leu uma mensagem enviada
pela Casa dos Açores da Nova Inglaterra. Um ator residente em Tavira, o Sr.
Vítor Correia, declamou um excerto do poema “Noite”, incluido na obra “Mensagem”,
de Fernando Pessoa. Assistiram a esta cerimónia o Almirante Vieira Matias,
Presidente da Academia de Marinha, o V/Alm. Oliveira Viegas, em representação
do Almirante CEMA, o Engº Damião de Castro, representando a “Associação Dr.
Manuel Luciano da Silva”, o Sr. Ruben Santos, Presidente da Casa dos Açores do
Algarve, o CFrag Pedro Ventura Borges, Capitão do Porto de Tavira, e, naturalmente, um numeroso grupo constituido por elementos
do curso CR, a maioria acompanhados pelas
suas mulheres e amigos. De assinalar ainda, a presença de muitos
Oficiais da Armada, na reserva ou na reforma, residentes no Algarve, e de
muitos tavirenses que se quiseram associar a esta cerimónia.
A inauguração foi
seguida de alguns eventos sociais, bem como de um magnífico concerto da Banda
da Armada, ao ar livre, às 21h30, na Praça da República, que reuniu numeroso
público e constituiu um grande sucesso.
Esta iniciativa do
curso Miguel Corte Real mereceu o apoio da Marinha de Guerra Portuguesa e de diversos
instituições e empresas, designadamente da Academia de Marinha, da Sociedade de
Geografia de Lisboa (Comissão Corte Real), das firmas MSC e Segurama, da Casa
dos Açores da Nova Inglaterra e da Associação “Manuel Luciano da Silva”.
Texto do CR HFonseca
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