sexta-feira, novembro 13, 2020

Memórias (só um pouco) navais

Estávamos no 3º ano da Escola Naval, salvo erro 1965/66, e um grupo de uns quinze cadetes portugueses foi convidado para visitar e almoçar no porta-helicópteros de construção recente Jeanne d’Arc, atracado em Alcântara, com cadetes franceses em viagem de instrução. Habituados a almoçar perto do meio-dia no Alfeite, já passava bastante das 13 horas, quando, depois duma prolongada visita guiada ao navio nos dirigimos para o refeitório. Sentados em mesas corridas, alternando os cadetes portugueses com franceses, recordo-me da chegada do 1º prato que imaginei não ser apenas uma entrada, em grandes travessas cheias de rabanetes sem a respectiva rama. Os empregados que os serviam eram efusivamente acolhidos pelos cadetes franceses e de forma muito menos esfusiante pelos portugueses. Chegada a minha vez de ser servido, declinei, o que causou alguma surpresa ao próprio criado e aos franceses que me rodeavam. Estava habituado, especialmente em casa dos meus avós, a ver os rabanetes cortados em flor a enfeitar as travessas, que nunca tinha provado, fiquei a aguardar ansiosamente o desenvolvimento da refeição. Só que o entusiasmo com que vi desenvolver-se a refeição, cada um cortando os rabanetes ao meio e adicionando-lhes manteiga e sal, levou-me a pensar que seria o prato principal duma refeição vegetariana. Nestas condições e com a fome da juventude a apertar ainda mais, resignei-me e chamei um dos copeiros para voltar à 1ª forma, pedindo-lhe para também me servir dos ditos rabanetes. Seguindo os procedimentos que já tivera ocasião de acompanhar, cortei os que me serviram em generosa quantidade, um pouco de manteiga e sal em cada uma das metades e, surpresa das surpresas, eram muito melhores do que esperava e imaginara. Tanto que posteriormente e ao longo de mais de 50 anos repeti em família este procedimento com agrado geral. Afinal o almoço não consistia só nos rabanetes que eram apenas a entrada e seguiu-se um prato substancial bem confecionado e requintado, talvez com base no pato mas que a memória não me ajuda a recordar. Enfim uma nova experiência e um dia diferente no regime de internato da altura, com um regresso à EN a meio das aulas da tarde, em que o calor dum dia de Sol e o processo digestivo dificultaram, mais do que normalmente, a nossa atenção. JVB Em plena pandemia COVID 12NOV200 P.S. 1. Completa um texto que aqui publicámos em 06FEV2013 2, O Jeanne d'Arc (R97) era um cruzador porta-helicópteros da Marinha da França. Foi construído pelo Arsenal de Brest de 1959 a 1961, o seu lançamento ao mar foi a 30 Setembro de 1961 e serviu a Marinha Francesa desde então. Foi retirado do serviço em 2014.

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