segunda-feira, dezembro 19, 2022

Encontros do CR: Almoço em 9DEZ2022


Em 9 de Dezembro de 2022 teve lugar mais uma confraternização dos membros deste curso, desta feita no Clube House Golf, Herdade da Aroeira, associando o sempre grato convívio a um local tão aprazível como convidativo, à proximidade das festividades do Natal e à recepção de um novo ano. Estiveram presentes 17 camaradas, que com suas esposas totalizaram 30 convivas, tendo, infelizmente, diversos imprevistos impedido que as presenças tivessem sido mais numerosas.

Após a distribuição de um saboroso cozido à portuguesa, Vasconcelos da Cunha criou um momento de reflexão, em torno de 3 poesias de que referiu ter-se servido "para fazer o elogio e a necessidade de mantermos estes contactos regulares com que alimentamos a nossa amizade e espírito de grupo que, forjados num sonho comum e reforçados na sua vivência e recordações, nos guiam hoje a respirar o cheiro a alga da maresia e a procurar colher a estrela do mar nas cidades navio". Tomamos a liberdade de transcrevê-las

 

Marinheiro sem Mar
Sophia de Mello Breyner
Longe o marinheiro tem
Uma serena praia de mãos puras
Mas perdido caminha nas obscuras
Ruas da cidade sem piedade

Todas as cidades são navios
Carregados de cães uivando à lua
Carregados de anões e mortos frios
E ele vai baloiçando como um mastro
Aos seus ombros apoiam-se as esquinas
Vai sem aves nem ondas repentinas
Somente sombras nadam no seu rastro.
Nas confusas redes do seu pensamento
Prendem-se obscuras medusas
Morta cai a noite com o vento

E sobe por escadas escondidas
E vira por ruas sem nome
Pela própria escuridão conduzido
Com pupilas transparentes e de vidro

Vai nos contínuos corredores
Onde os polvos da sombra o estrangulam
E as luzes como peixes voadores
O alucinam.

Porque ele tem um navio mas sem mastros
Porque o mar secou
Porque o destino apagou
O seu nome dos astros

Porque o seu caminho foi perdido
O seu triunfo vendido
E ele tem as mãos pesadas de desastres

E é em vão que ele se ergue entre os sinais
Buscando a luz da madrugada pura
Chamando pelo vento que há nos cais

Nenhum mar lavará o nojo do seu rosto
As imagens são eternas e precisas
Em vão chamará pelo vento
Que a direito corre pelas praias lisas

Ele morrerá sem mar e sem navios
Sem rumo distante e sem mastros esguios
Morrerá entre paredes cinzentas
Pedaços de braços e restos de cabeças
Boiarão na penumbra das madrugadas lentas.

E ao Norte e ao Sul
E ao Leste e ao Poente
Os quatro cavalos do vento
Sacodem as suas crinas

E o espírito do mar pergunta:

 «Que é feito daquele
Para quem eu guardava um reino puro
De espaço e de vazio
De ondas brancas e fundas
E de verde frio?»

Ele não dormirá na areia lisa
Entre medusas, conchas e corais
Ele dormirá na podridão
E ao Norte e ao Sul
E ao Leste e ao Poente
Os quatro cavalos do vento
Exactos e transparentes
O esquecerão

Porque ele se perdeu do que era eterno
E separou o seu corpo da unidade
E se entregou ao tempo dividido
Das ruas sem piedade.

Os Amigos
Sophia de Mello Breyner

Voltar ali onde
A verde rebentação da vaga
A espuma o nevoeiro o horizonte a praia
Guardam intacta a impetuosa
Juventude antiga -
Mas como sem os amigos
Sem a partilha o abraço a comunhão
Respirar o cheiro a alga da maresia
E colher a estrela do mar em minha mão

 

Pus o meu sonho num navio
Cecília Meireles (poetisa brasileira)

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

 

Noutro momento, Silva da Fonseca lembrou que o curso completa em 2023 os 60 anos (60!...) da entrada para a Marinha, justificando-se alguma celebração da efeméride, e propondo a constituição de um grupo de camaradas para definirem como se poderá concretizar, o que foi aceite.

Participaram: Bonina Moreno e esposa, Caldeira dos Santos e esposa, Cardoso Anaia e esposa, Costa e Silva e esposa, Costa Roque e esposa, Freire de Menezes, Marques de Sá e esposa, Matias Cortes e esposa, Moreira Pereira, Pereira Bento e esposa, Possidónio Roberto e esposa, Rebelo Duarte e esposa, Rebelo Marques, Reynaud da Silva, Silva da Fonseca e esposa, Silva e Pinho e esposa e Vasconcelos da Cunha e esposa, que gentilmente permitiram que se registasse o momento na fotografia que acima reproduzimos.

Um bom Natal e que o Ano Novo se componha apenas de momentos felizes.


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